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China deslancha com crescimento de 5% em 2024, mas população vive a frustração da desaceleração econômica

2025-01-17

Autor: Mariana

A economia da China avançou 5% em 2024, impulsionada principalmente pelas exportações. Contudo, esse crescimento não é suficiente para conter a insatisfação popular. A deflação dos preços ao produtor cimenta a competitividade dos produtos chineses no cenário global, mas também provoca tensões comerciais com países concorrentes. No cenário interno, a queda de preços impactou significativamente os lucros das empresas e a renda dos trabalhadores.

Andrew Wang, CEO de uma empresa que fornece serviços de automação industrial no setor de veículos elétricos, revelou que suas receitas caíram 16% no ano passado e que, em decorrência disso, ele precisou demitir funcionários e considera novas demissões em um futuro próximo. "As cifras divulgadas foram um choque para muitos. Precisamos aumentar nosso ritmo de trabalho apenas para nos manter no mesmo lugar", desabafou Wang, destacando a dificuldade crescente enfrentada pelas empresas.

As dúvidas em relação ao crescimento real da economia são acentuadas pela falta de respostas do Escritório Nacional de Estatísticas e do Conselho de Estado chinês sobre os dados oficiais. Especialistas alertam que, caso o investimento extra planejado pelo governo de Pequim para este ano seja direcionado majoritariamente para melhorias industriais e de infraestrutura, ao invés de políticas que beneficiem famílias, isso poderá intensificar o excesso de capacidade das fábricas, enfraquecer o consumo e elevar ainda mais as pressões deflacionárias.

"Muitas dúvidas cercam a capacidade da China de atingir a meta de crescimento, especialmente com a demanda interna fraca e os mercados imobiliário e acionário em frangalhos", afirmou Eswar Prasad, professor de política comercial da Universidade de Cornell. As tensões externas, como a guerra comercial com os EUA, agravam ainda mais esse cenário desafiador.

A China, a segunda maior economia do mundo, superou as previsões de crescimento de 4,9% para 2024, alcançando uma expansão de 5,4% no último trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, a taxa mais alta desde o início do ano. Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia do HSBC, afirmou que isso indica sinais de recuperação econômica, impulsionada pela produção industrial e pelas exportações. No entanto, a alta nas exportações pode ter sido temporária, antecipada por um aumento de remessas para os EUA antes de terremotos tarifários.

Os exportadores chineses temem que tarifas mais altas impactem ainda mais suas operações, acelerando a deslocalização da produção e afundando ainda mais os lucros. Uma nova fase da guerra comercial, descrita como 2.0, colocaria a China em uma posição vulnerável, uma vez que enfrenta uma crise imobiliária profunda e uma enorme dívida dos governos locais.

Recentemente, Pequim anunciou planos para priorizar o consumo doméstico, incluindo um programa expandido que subsidia a compra de bens como carros e eletrodomésticos. No entanto, o aumento salarial concedido aos funcionários públicos foi modesto, representando somente 0,1% do PIB, mostrando a limitação da resposta do governo às crescentes demandas sociais.

O ceticismo em relação à precisão dos dados econômicos da China está em alta. Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe da Natixis, enfatizou que a meta de crescimento de 5% é questionável, alertando que investidores globais não devem entrar na China apenas por causa desse número. Além disso, a dúvida sobre as projeções é exacerbada por declarações de economistas respeitados que sugerem que o crescimento do PIB pode ter sido superestimado em até 10 pontos percentuais nos últimos anos.

O Rhodium Group, em uma análise recente, estimou que o crescimento econômico da China pode ter sido de apenas 2,4% a 2,8% em 2024, ressaltando a desconexão entre os números oficiais e a realidade do dia a dia dos cidadãos, que continuam a sentir os efeitos de uma economia em desequilíbrio.