Carrinho encolhe e preço cresce: o drama da mesa brasileira
2025-01-17
Autor: Matheus
A inflação oficial do Brasil fechou 2024 em impressionantes 4,83%, superando o teto da meta estipulada pelo Banco Central. Mas para muitos brasileiros, esse número está longe de refletir a realidade das compras diárias. Ao visitar o mercado, abastecer o carro ou pagar planos de saúde, muitos sentem uma corrosão do poder de compra muito mais intensa do que indicam os índices oficiais. A discrepância entre a inflação divulgada e a vivenciada pelos consumidores tem raízes na metodologia de medição dos preços, assim como no impacto desigual da alta dos custos sobre diferentes perfis de consumo.
O IPCA, principal índice de inflação do país, considera uma cesta de bens e serviços padronizada, mas cada família tem suas próprias necessidades e prioridades. Dados do IBGE em 2024 revelaram que produtos essenciais tiveram aumentos exorbitantes: carnes (20,84%), óleo de soja (29,21%), azeite de oliva (21,53%), café moído (39,6%) e leite longa vida (18,83%). Em contrapartida, alguns itens subiram menos ou até caíram. Para as famílias que destinam a maior parte de sua renda à alimentação e combustíveis, a verdadeira inflação é sentida com ainda mais intensidade, tornando a situação insustentável para muitos brasileiros de baixa renda.
Além do aumento nominal dos preços, a prática da "reduflação" – em que produtos diminuem de tamanho enquanto os preços permanecem os mesmos ou aumentam – contribui para a sensação de perda do poder de compra. Os consumidores acabam pagando mais por menos, frequentemente sem perceber. Essa prática é alarmantemente comum em setores com pouca concorrência e afeta, especialmente, aqueles que não notam as sutilezas nas embalagens e tamanhos dos produtos.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou uma tendência preocupante: em 2024, a reduflação resultou em uma média de 20% de redução no tamanho dos produtos, sem uma diminuição proporcional nos preços. Alimentos, itens de higiene e produtos de limpeza foram os mais afetados. Por exemplo, o óleo de soja, com embalagem reduzida para 900 ml, resultou em um acréscimo real de 12,5% no custo, enquanto a embalagem de ovos diminuiu de 12 para 10 unidades, gerando um aumento efetivo de 20%. Ou seja, os consumidores saem do mercado com carrinhos menores, sem perceber que estão pagando cada vez mais.
Além dos aspectos financeiros, a inflação dos alimentos traz um impacto psicológico e social substancial. Não só dilui a renda, mas também afeta diretamente a segurança alimentar e a qualidade de vida das famílias. Com o crescimento das dificuldades em proporcionar uma alimentação saudável e adequada, muitos brasileiros estão enfrentando um verdadeiro drama em suas mesas. Essa realidade leva a uma sensação de inflação ainda mais alta do que a registrada nos índices oficiais, criando um ciclo vicioso que afecta o cotidiano de milhões no Brasil. É urgente que a sociedade e as autoridades reconheçam esse fenômeno e busquem soluções para mitigar seus efeitos devastadores.