Como os Estados Unidos se apropriaram do Canal do Panamá e por que tiveram que devolvê-lo nos anos 1990

31 de dezembro de 1999. A bandeira dos Estados Unidos é abaixada e a do Panamá é elevada, simbolizando pela primeira vez a soberania total do país sobre a Zona do Canal. Esse momento histórico é celebrado com entusiasmo pelos panamenhos, marcando o término de um controverso relacionamento de quase um século entre os EUA e o Panamá.

Esse evento foi resultado de um acordo firmado em 1977 entre o presidente norte-americano Jimmy Carter e o general Omar Torrijos, líder panamenho. O tratado estabeleceu um cronograma para a devolução do canal ao Panamá, um passo significativo que encerrava uma era marcada por protestos e lutas por soberania.

A apropriação do canal pelos EUA remonta ao início do século 20, durante um período de instabilidade na Colômbia, que controlava a região na época. A necessidade de conectar os oceanos Atlântico e Pacífico tornou-se um foco desde a colonização europeia, mas a construção do canal só se concretizou após os EUA intervirem na guerra civil colombiana, apoiando a independência do Panamá em 1903. A rápida construção e o controle americano sobre a Zona do Canal, formalizados pelo Tratado Hay-Bunau-Varilla, criaram uma divisão no país.

Milhares de norte-americanos viviam na Zona do Canal sob suas próprias leis, o que originou um sentimento crescente de ressentimento e demandas por autonomia entre os panamenhos. Este sentimento se materializou em várias mobilizações ao longo das décadas, particularmente na "Operação Soberania" de 1958, quando estudantes plantaram bandeiras panamenhas em território americano.

O Dia dos Mártires, em 9 de janeiro de 1964, foi um ponto de virada crucial. Estudantes que tentavam hastear a bandeira do Panamá na Zona do Canal se depararam com a resistência das autoridades americanas, resultando em confrontos que deixaram dezenas de mortos. Este evento provocou uma onda de indignação e, finalmente, trouxe o país a um ponto de inflexão em suas negociações com os EUA.

Catorze anos depois, após longas e tensas negociações, o que ficou conhecido como os Tratados Torrijos-Carter foi assinado. Este acordo marcou um compromisso formal de devolver o canal ao Panamá até 31 de dezembro de 1999, numa tentativa de restabelecer o respeito à soberania panamenha e corrigir as injustiças históricas.

A devolução do Canal do Panamá foi um momento de celebração nacional. No dia 31 de dezembro de 1999, a presidente panamenha Mireya Moscoso hasteou a bandeira panamenha, dando início a uma nova era para o país. "O Panamá finalmente alcança a plenitude de um Estado soberano", declarou. Desde então, o Panamá assumiu a gestão do canal, que se tornou uma peça chave na economia global, provando que a luta pela soberania valeu a pena.

Hoje, com o canal sob controle panamenho, o país não só celebra sua independência, mas também os enormes benefícios econômicos que o canal traz, refletindo sobre a importância da autodeterminação e da soberania nacional.