Brasil à beira do deserto? Entenda as causas da degradação no semiárido
2025-01-13
Autor: João
O Brasil é conhecido principalmente por sua vasta riqueza em biomas tropicais, o que teoricamente o protege de ter desertos. No entanto, há regiões semiáridas, como parte do Nordeste e Sudeste, que sofrem com baixa pluviosidade e longos períodos de seca, apresentando indícios de degradação que podem levar a um cenário similar a desertos.
A desertificação é um fenômeno complexo, causado por diversos fatores, entre os quais se destacam a pecuária, o desmatamento e os incêndios florestais. Esses agentes resultam em um desequilíbrio entre a atmosfera e o solo, com a intensificação da escassez de chuvas e a exaustão da fertilidade do solo. Os incêndios, por sua vez, deixam cicatrizes profundas e afetam diretamente os nutrientes disponíveis no solo. Essa recuperação torna-se um desafio, como explica Alexandre Pires, diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente.
As mudanças climáticas também estão exacerbando essa situação, com eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, que agravam ainda mais as condições das áreas afetadas. Com temperaturas elevadas e a falta de vegetação, o solo torna-se um local propício para a degradação, levando à desertificação.
Os impactos socioambientais são profundos: além da perda de biodiversidade, a desertificação contribui para o empobrecimento da população local e a migração forçada em busca de melhores condições de vida.
Mais de 1.400 municípios no Nordeste e Sudeste são considerados vulneráveis a esse processo. Estima-se que áreas áridas semelhantes a desertos estão se formando, especialmente no norte de Minas Gerais e no Nordeste, um fenômeno alarmante que nunca foi observado anteriormente no país.
Atualmente, o Brasil possui seis núcleos de desertificação identificados: Seridó (RN/PB), Cariris Velhos (PB), Inhamuns (CE), Gilbués (PI), Sertão Central (PE) e Sertão do São Francisco (BA). Desta forma, cerca de 207 mil km² de solos na caatinga já estão em estado severo ou crítico de degradação.
Felizmente, há esperança: as áreas desertificadas podem se regenerar. Contudo, esse processo pode levar mais de 30 anos e requer a integração das comunidades locais em um equilíbrio com o território. Além disso, a revitalização pode ser onerosa, demandando uma abordagem de políticas públicas eficazes que promovam a convivência com a aridez.
Internacionalmente, a desertificação é uma questão de grande relevância e líderes de diversos países se reuniram em fóruns globais para discutir soluções. Estima-se que 1,5 bilhão de hectares de terras precisem ser recuperados em cinco anos, com um custo de US$ 2,6 trilhões até 2030. Essa questão se torna ainda mais crítica em áreas como a África, onde a segurança alimentar depende diretamente do combate à desertificação.
Estudos apontam que soluções baseadas na natureza têm se mostrado eficazes para enfrentar essa crise. Uma pesquisa publicada em 2020 sugere que essas intervenções são muitas vezes mais eficazes do que abordagens tradicionais. O futuro do Brasil e do planeta pode depender de nossa capacidade de implementar essas soluções e preservar nossos ricos biomas.