Saúde

Bactéria na Boca Pode Ser A Chave Para Entender o Câncer Colorretal

2024-09-20

O câncer colorretal se tornou uma preocupação crescente no Brasil, com aumento alarmante de casos entre adultos jovens. Pesquisadores ao redor do mundo estão se esforçando para entender as origens dessa doença e quais fatores estão envolvidos em seu desenvolvimento. Agora, um estudo publicado na revista Nature sugere uma relação surpreendente entre o câncer colorretal e uma bactéria comum em nossas bocas: a Fusobacterium nucleatum.

Mais especificamente, os pesquisadores focaram em uma subespécie chamada *F. nucleatum animalis C2* (FnaC2), que possui características genéticas que a permitem sobreviver em ambientes ácidos, como o estômago, e infectar tumores colorretais, possivelmente impulsionando seu crescimento. As descobertas indicam que essa bactéria pode se tornar uma ferramenta valiosa para detecção e tratamento precoce do câncer colorretal.

Christopher D. Johnston, pesquisador do MD Anderson Cancer Center, destacou que em 2022, sua equipe já havia identificado que bactérias comuns da boca, como a Fusobacterium e a Treponema, estão presentes em quantidades elevadas nas células tumorais do trato gastrointestinal humano.

O novo estudo aprofundou-se na análise das subespécies de *F. nucleatum* para determinar qual delas tem maior associação com o câncer colorretal, observando se todas possuem a capacidade de migrar da cavidade oral para os tumores. Analises genéticas das amostras revelaram que a FnaC2 se destaca como a mais relevante nessa situação.

As implicações desta pesquisa são vastas. Ao identificar as linhagens específicas de *Fusobacterium nucleatum* ligadas ao câncer colorretal, novas oportunidades se abrem para o rastreamento de populações em risco. Johnson observou que pesquisas futuras poderiam permitir o desenvolvimento de kits de triagem minimamente invasivos, potencialmente revolucionando a forma como o câncer colorretal é detectado e tratado.

A Dra. Nidia Castro dos Santos, especialista em periodontia, alerta que a presença da F. nucleatum na boca é comum, mas o acúmulo de biofilme pode levar a problemas como gengivite e periodontite, que já estão associados a várias complicações de saúde. Essa descoberta fortalece a necessidade de estudos adicionais para explorar se a presença dessa bactéria aumenta o risco de câncer colorretal apenas em pessoas com doenças gengivais ou também em indivíduos com saúde bucal preservada.

"Seria interessante investigar se o tratamento de doenças periodontais poderia ter um papel na prevenção ou tratamento do câncer colorretal. Esses estudos podem abrir uma nova fronteira na pesquisa sobre como a saúde bucal impacta a saúde geral", pondera a especialista.

A investigação da relação entre a saúde bucal e o câncer continua, e as descobertas podem não apenas transformar o entendimento do câncer colorretal, mas também levar a inovadoras abordagens no tratamento e na prevenção.