Até onde Haddad conseguirá segurar a pressão por cortes de gastos?
2024-11-01
Autor: Julia
Pressão por cortes de gastos e a viagem de Haddad
Com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fora de Brasília na próxima semana por conta de uma viagem internacional à Europa, o clima de pressa em relação ao ajuste fiscal se intensifica, especialmente com a pressão do mercado financeiro para o anúncio imediato de cortes de despesas.
Estratégia do governo e PEC
Na última terça-feira, após uma reunião do presidente Lula (PT) com a equipe econômica, a estratégia do governo pareceu esfriar as expectativas sobre um rápido encaminhamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que Haddad pretende apresentar para conter o avanço das despesas obrigatórias e trazer maior previsibilidade ao futuro fiscal do país.
Contexto delicado da economia brasileira
A viagem do ministro ocorre em um contexto delicado, marcado pela elevação dos juros futuros, a valorização do dólar e a crescente tensão em torno das eleições presidenciais nos Estados Unidos, que ocorrerão na próxima terça-feira (5). Todos esses fatores aumentam as incertezas no cenário econômico brasileiro.
Resistência interna e necessidade de consenso
Apesar de alguns sinais de convergência sobre a necessidade de um pacote fiscal mais robusto, transmitidos pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, ainda existe uma resistência dentro do governo. Fica claro que é preciso convencer Lula sobre a urgência de medidas mais enérgicas para tranquilizar os investidores e mitigar os riscos relacionados ao aumento da dívida pública, uma questão que transcende as fronteiras brasileiras.
Posição de Lula e tempo político
Assessores próximos ao presidente têm destacado que Lula não está impressionado com a pressão de prazos imposta pelo mercado para a anunciada proposta. O tempo da política é, muitas vezes, distinto do tempo econômico.
Necessidade de tempo e desenvolvimento de um pacote
Haddad, portanto, precisa de tempo extra. Tempo para alcançar um consenso sobre as ações que serão necessárias para o ajuste fiscal. Até o momento, as diretrizes do pacote ainda não foram consolidadas e a reunião dessa semana não definiu todas as iniciativas que acompanhariam a implementação de um teto global para as despesas obrigatórias. Prevê-se que esse teto siga uma correção de até 2,5% acima da inflação anual, atrelado a gatilhos de contenção.
Fases de implementação das medidas de corte
Documentos recentemente filtrados indicam que as medidas em avaliação podem acabar se desdobrando em uma lista de gatilhos, sendo implementadas de forma isolada ou combinada. Entretanto, não há nada concretizado ainda; os cenários permanecem em análise.
Desafios e serviços obrigatórios
Sem as devidas medidas de corte ou gatilhos enraizados, fica inviável prometer o respeito ao limite das despesas obrigatórias. Gastos obrigatórios não desaparecem simplesmente porque um teto foi fixado. Eles são compromissos legais que devem ser respeitados independentemente de mudanças no cenário político.
Ameaças de renúncia e dificuldades internas
A ameaça do ministro Luiz Marinho (Trabalho e Emprego) de renunciar caso não sejam consideradas as demandas de sua pasta, que envolvem temas como seguro-desemprego e abono salarial, evidencia as dificuldades que Haddad pode enfrentar e acende um alerta sobre uma possível crise de governabilidade, principalmente com o apoio de setores mais radicais do PT.
Dissensão entre ministros
"Se eu for atacado, não hesitarei em [pedir demissão]", declarou Marinho em coletiva de imprensa, manifestando-se de maneira contundente contra o pacote fiscal de Haddad. Nos bastidores, há ministros insatisfeitos e preocupados com os possíveis impactos do pacote em suas pastas. O alinhamento interno das estratégias de ajuste é, neste momento, a prioridade na avaliação do Palácio do Planalto.
A exclusão de Simone Tebet
Além disso, é controverso o fato de que Lula tenha deixado de incluir a ministra Simone Tebet (Planejamento) nas discussões relacionadas às medidas de ajuste, o que pode criar fissuras adicionais nas fileiras governamentais.
Cotação do dólar e a pressão por respostas
Para complicar ainda mais, a semana encerrou com a cotação do dólar a R$ 5,86. Até onde Haddad conseguirá segurar a pressão sem apresentar medidas concretas? O futuro econômico do Brasil pode depender dessa resposta.