Tecnologia

Após o 'apodrecimento cerebral', a palavra do ano pode ser 'agente'

2024-12-22

Autor: Carolina

Recentemente, o dicionário Oxford anunciou a palavra do ano de 2024, escolhida por meio de um extenso processo de votação que contou com 37 mil votos. A grande vencedora foi a expressão "brain rot", que em tradução livre significa 'apodrecimento cerebral'. O termo foi definido como "a suposta deterioração mental de uma pessoa devido ao consumo excessivo de conteúdos online considerados triviais ou simplórios".

Este conceito não é novo. A primeira vez que a expressão foi mencionada foi no livro "Walden", de Henry David Thoreau, publicado em 1854. Nessa obra, Thoreau critiquava a mídia da época, afirmando: "Estou certo de que nunca li nenhuma notícia memorável em um jornal. Para um filósofo, todas as notícias são fofocas. Quem as edita são velhas tomando chá. Para aqueles que são estudiosos ou sagazes, para quem não tem o cérebro apodrecido, não há utilidade para elas. O funcionamento saudável do intelecto depende de se manter afastado de repetições intermináveis".

Pensando nisso, desejo ousar prever que a palavra do ano de 2025 será "agente", ou qualquer derivação relacionada à inteligência artificial. Em inglês, já existem diversos neologismos, como agentic (agêntico), agentify (agentificar), agentness (agenciedade), agentive (agentivo) e agentoid (agentoide). Se algo nesta linha vencer no próximo ano, minha previsão terá se concretizado, embora poucos se lembrem disso.

Com ainda um ano pela frente até o final de 2025, é interessante perceber porque a palavra "agente" está ganhando destaque. Um artigo recente de Tiago Peixoto e Luke Jordan, intitulado "Agentes para poucos e filas para muitos? Ou agentes para todos?", explora essa temática. Nele, a dupla apresenta uma proposta audaciosa: democratizar o uso de agentes de inteligência artificial para facilitar o acesso a serviços públicos.

Agentes de IA já estão em evidência em diversas áreas. Por exemplo, nos Estados Unidos, esses agentes transformaram a dinâmica dos sites de reservas de restaurantes, onde pessoas estão utilizando assistentes virtuais para reservar todos os horários disponíveis nos estabelecimentos populares e depois revendendo essas reservas por preços absurdos no mercado secundário. O mesmo ocorre com ingressos de shows, que se esgotam em minutos devido à ação de cambistas que utilizam IA para garantir as entradas e revende-las a valores exorbitantes.

A proposta de Tiago e Luke sugere que serviços públicos também possam adotar agentes de IA. Ao invés de esperar em longas filas para acessar um serviço, um agente poderia ser a solução para otimizar esse processo. Um exemplo é a plataforma DirectFile nos EUA, que realiza automaticamente o preenchimento da declaração de Imposto de Renda. Na África do Sul, o site WeQ4U auxilia no licenciamento de veículos.

No Brasil, os chamados "despachantes" são frequentemente utilizados para agilizar o acesso a serviços públicos, mas estes são acessíveis apenas a uma fração da população. A ideia é que a inteligência artificial possa se tornar um despachante universal, auxiliando qualquer cidadão, gratuitamente, a navegação por serviços públicos de maneira mais eficiente. Thoreau certamente ficaria intrigado com essa evolução.

Uma nota interessante é que, enquanto alguns acreditam que o Bitcoin teria passado do seu auge, ele continua a ser um dos investimentos mais rentáveis do ano, chocando até os mais céticos!