Alcooholismo no Futebol: O Inimigo Oculto que Encurta Carreiras e Vidas
2024-11-05
Autor: João
O alcoolismo é um assunto que ainda permanece como um tabu nas discussões dentro dos clubes brasileiros de futebol. Embora existam lacunas consideráveis na pesquisa sobre o tema no Brasil, suas consequências são devastadoras para a carreira, saúde e vida pessoal dos atletas. Uma pesquisa mundial realizada em 2014 com 301 jogadores, incluindo tanto aqueles em atividade quanto aposentados, revelou que 26% dos atletas ativos enfrentam distúrbios de ansiedade e depressão devido à pressão do trabalho, enquanto esse número sobe para alarmantes 40% entre os aposentados, que lidam com a desmotivação e o vazio após o fim da carreira.
Em um estudo realizado em 2015 pelo Sindicato Internacional dos Profissionais de Futebol com aproximadamente 800 jogadores, revelou-se que 9% dos atletas em atividade e 25% dos aposentados admitiram o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Curiosamente, o álcool não está classificado entre as drogas proibidas no esporte, segundo a Agência Mundial Antidoping, o que faz com que a questão seja tratada com menos rigidez em comparação a outras substâncias.
O trágico legado de ídolos vencidos pelo alcoolismo
Nomes marcantes do futebol brasileiro, como Alcino, Neves, Bira, Durvalino, Paulinho Rabiola, Lupercínio e o goleiro Ferreira, tiveram suas vidas abreviadas por doenças relacionadas ao consumo abusivo de álcool. Tristemente, Garrincha e Sócrates também fazem parte dessa lista de ídolos nacionais cujas carreiras e vidas foram comprometidas pelo vício. Além de encurtar vidas, o uso regular de álcool pode ruir carreiras promissoras. Exemplos claros estão em jogadores como Adriano Imperador, Ronaldinho Gaúcho, Jô e Cicinho, cujas jornadas no esporte foram ofuscadas pelo consumo excessivo.
Os efeitos do álcool são devastadores para o desempenho dos atletas. O consumo agudo e crônico causa desidratação, desequilíbrio psicomotor e diminuição da capacidade muscular. Além disso, o tempo de recuperação após os jogos é significativamente afetado, tornando-se um ciclo vicioso de desempenho prejudicado.
Como mudar essa realidade?
A atuação de profissionais como o professor Erick Cavalcante, especialista em fisiologia, é essencial para entender melhor os efeitos do álcool na saúde e desempenho de atletas. Celebrar após uma vitória com cervejas pode parecer inofensivo, mas é crucial que os atletas conheçam os riscos. O desequilíbrio psicomotor provocado pelo álcool afeta diretamente a coordenação e a precisão nas ações em campo, refletindo em erros durante os jogos. Muitos atletas não se dão conta de que esses erros podem estar associados ao consumo de álcool, que pode permanecer em seu organismo durante longos períodos.
A situação é ainda mais crítica entre os jovens atletas que aspiram integrar equipes profissionais. O ambiente de festas regadas a álcool é algo comum, e os clubes e familiares devem ser vigilantes e proativos na conscientização dos jovens jogadores sobre os perigos do alcoolismo.
Infelizmente, alguns clubes, como o Paysandu, já trouxeram jogadores com histórico de alcoolismo, como Yone Gonzalez e Cazares, para dentro de suas estruturas, muitas vezes ignorando os claros sinais de gravações que poderiam passar. Isso levanta questões sobre as prioridades e responsabilidades dos clubes na manutenção da integridade e saúde de seus atletas.
Histórias como a de Alcino, que jogava inebriado nos anos 70, transformaram-se em mitos dentro do esporte. Naquela época, um jogador corria de sete a oito quilômetros em um jogo; hoje, um profissional prossegue em média 12 quilômetros. O nível de esforço e dedicação evoluiu, mas o vício pelo álcool ainda contamina a cultura do futebol, e é um caminho que deve ser interrompido para preservar a saúde e o futuro dos atletas. Mudanças precisam ser feitas, e a primeira delas é no reconhecimento do problema para que a próxima geração de talentos não enfrente os mesmos demônios.