Ciência

A Urgência de uma Ecoteologia para a Mãe Terra

2025-01-19

Autor: Maria

Não são apenas os menos favorecidos que gritam. A própria Terra, conhecida como o Grande Pobre, clama por socorro, espoliada de seus recursos naturais limitados. Recentemente, o Papa Francisco destacou o grito da Terra e daqueles que vivem na pobreza. A maior agressão que podemos fazer é ignorá-la como a Grande Mãe, a Casa Comum e Gaia, um superorganismo vivo que se autorregula e sustenta todos os elementos necessários para a vida, principalmente a vida humana, que representa o ápice do processo evolutivo.

Infelizmente, hoje, a Terra está se mostrando debilitada. Estamos enfrentando o fenômeno da sobrecarga da Terra (Earth overshoot). Devido à voracidade de alguns que buscam acumular bens materiais de forma insaciável, a natureza tem sido excessivamente explorada. O cenário se agrava: as emissões de gases de efeito estufa não estão diminuindo como deveriam, intensificando o aquecimento global e suas consequências devastadoras.

Os direitos da natureza e da Terra não são reconhecidos, reduzindo-a a um mero estoque de recursos a serem explorados em prol de um crescimento econômico ilusório, mesmo sabendo que o planeta possui limites. No entanto, a consciência sobre a nossa interdependência está crescendo, especialmente entre os astronautas que, ao verem a Terra do espaço, testemunham que a humanidade e o planeta formam uma única e intrincada entidade.

Diante da urgência ecológica, a escolha é clara: ou cuidamos de nossa Mãe Terra ou estaremos fadados a um colapso global, sem a chance de uma nova arca de Noé para nos salvar. Papa Francisco ressaltou em sua encíclica *Fratelli tutti* que “estamos todos no mesmo barco; ou nos salvamos juntos, ou ninguém se salvará.”

Por isso, ao lutarmos contra a pobreza, devemos incluir a Terra, reconhecendo-a como o Grande Pobre. Nossa missão é tirá-la da cruz e restaurar sua vitalidade. Uma teologia da libertação integral deve se transformar em uma ecoteologia de libertação, como defendi desde os anos 80 e que foi oficialmente endossada pelo Papa Francisco em sua encíclica *Laudato si’*, sobre a maneira de cuidar da nossa Casa Comum.

A ética ecológica é fundamental e requer uma ação urgente. Em 2023, lançamos na atmosfera cerca de 40 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). Embora a natureza absorva parte desse carbono, a outra metade permanece na atmosfera por cerca de cem anos, criando um efeito estufa que intensifica o aquecimento global, resultando em fenômenos extremos, como os incêndios devastadores na Amazônia, Pantanal e até mesmo na Sibéria.

Estamos entrando em uma nova fase da Terra, o que muitos chamam de piroceno, marcada pela potencial irrupção do fogo que pode consumir tudo, representando uma ameaça profunda para a sobrevivência humana e de todos os seres vivos. A ciência nos ajuda a prever e mitigar os impactos de eventos extremos, mas não é suficiente. Precisamos de uma nova ética e espiritualidade que nos guiem a uma forma mais gentil e cuidadosa de coexistir com a Terra.

É imperativo que comecemos agora, cada um fazendo sua própria revolução molecular em casa ou no trabalho. Juntas, nossas forças poderão criar um movimento transformador que nos permitirá continuar habitando este belo e rico planeta, a nossa única Casa Comum. O tempo está se esgotando, e a mudança deve começar já! Caso contrário, corremos o risco de desaparecer ou perder a maior parte da humanidade, o que nunca é a vontade do Criador. É hora de agir antes que seja tarde demais.