A Incrível Solução da Nova Zelândia para a Crise da Dívida Pública Mundial de US$ 100 Trilhões
2024-11-08
Autor: João
Nos anos 80, a Nova Zelândia vivia um verdadeiro pesadelo econômico. Após dois grandes choques nos preços do petróleo e a saída do Reino Unido da sua área comercial, o país enfrentou uma inflação galopante e um aumento alarmante do desemprego. A situação ficou tão crítica que a nação passou a ser chamada de "Albânia do Pacífico Sul".
Entretanto, a história da Nova Zelândia é um verdadeiro conto de fadas econômico. Em 1984, um novo governo trabalhista, sob a liderança de Roger Douglas, lançou o que ficou conhecido como "Rogernomics", um conjunto de reformas radicais que transformariam o país em um dos mais prósperos do mundo. Entre as principais mudanças estavam a liberalização da economia, a privatização de serviços públicos e a criação de um banco central independente responsável pela definição das taxas de juros.
Um dos pontos mais significativos do “Rogernomics” foi a mudança na contabilidade pública. Ian Ball, um especialista em finanças públicas e um dos autores do livro "Public Net Worth", destaca que a nova abordagem contábil foi uma das chaves para o sucesso financeiro da Nova Zelândia. Ao invés de usar a contabilidade tradicional baseada em caixa, o governo adotou um sistema de contabilidade baseado em competência, que forçava as instituições a pensar a longo prazo e a maximizar o uso eficiente de ativos.
Essa mudança foi especialmente relevante no contexto atual do Reino Unido, onde uma grande reforma orçamentária está em discussão.
Um exemplo disso é como o novo sistema contabiliza as pensões do setor público. Com a contabilidade baseada em caixa, a dívida só é registrada quando a pensão é paga, o que pode ocorrer anos depois do compromisso inicial. Já com a contabilidade por competência, o custo é registrado no momento em que o benefício é adquirido, incentivando o governo a se preparar para pagamentos futuros. Isso levou a Nova Zelândia a criar, em 2001, um Fundo de Superannuation, que é considerado um modelo a ser seguido por países de todo o mundo.
O impacto dessas reformas na saúde fiscal do país é inegável. Ian Ball observa que, antes da implementação do Rogernomics, a Nova Zelândia enfrentava anos de déficits orçamentários. No entanto, após a adoção das novas práticas contábeis, o patrimônio líquido do governo cresceu de forma consistente, contribuindo para a redução da dívida. Exceto por alguns eventos adversos, como a crise financeira global e o terremoto de Christchurch em 2011, a saúde fiscal da Nova Zelândia se manteve robusta mesmo durante a pandemia.
Agora, Ball está em uma missão: levar a experiência da Nova Zelândia para outros países, enfrentando um desafio global comum — a dívida pública excessiva. A dívida pública dos Estados Unidos se aproxima de 100% do PIB e pode alcançar 122% até 2034. Na Europa, a situação é semelhante, com países lutando para controlar suas finanças em um cenário de tensões geopolíticas e envelhecimento populacional. Com a dívida pública global prevista para ultrapassar US$ 100 trilhões até o final do ano, a urgência de uma solução é inegável.
Os autores acreditam que a contabilidade baseada em competência pode ser a resposta para melhorar a eficiência do setor público e aliviar a pressão sobre os governos com dificuldades financeiras. Ao gerenciar melhor suas propriedades, o potencial de arrecadação se torna mais evidente. Na Nova Zelândia, por exemplo, o governo implementou um sistema que permite uma avaliação justa dos ativos públicos.
Mesmo assim, a adoção desse modelo ainda é um desafio. No Reino Unido, discussões recentes sugerem que uma nova reforma fiscal poderia incluir a consideração de ativos e passivos, no entanto, a implementação de um orçamento baseado em competência ainda é uma promessa distante.
Os políticos hesitam em adotar a contabilidade transparente, pois isso implica em maior responsabilidade e menos espaço para manobras. Além disso, funcionários públicos temem que a mudança possa tornar obsoletas suas habilidades atuais.
A Nova Zelândia se tornou um farol de esperança em tempos de crise, mostrando que, com coragem e visão, é possível reverter cenários desastrosos. Resta saber se outros países terão a ousadia de seguir o exemplo e se transformar na próxima história de sucesso econômico.