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A Europa diz NÃO à soja de áreas desmatadas: A soja brasileira está pronta para a mudança?

2024-11-02

Autor: Gabriel

A controvérsia envolvendo a soja brasileira ganhou destaque esta semana após declarações do diretor financeiro global da Danone, que afirmaram a preferência da multinacional francesa por importar soja da Ásia. Isso provocou um forte descontentamento entre o governo brasileiro e os agricultores, que ressaltam a importância da produção local, a maior do mundo.

A Danone Brasil se apressou em declarar que a informação era incorreta, reiterando que continua a comprar soja nacional, e que possui um rastreamento rigoroso para garantir a sustentabilidade de seus ingredientes. Esse episódio ocorre em um contexto onde a nova regulamentação da União Europeia, conhecida como European Union Deforestation Regulation (EUDR), entrará em vigor em 30 de dezembro de 2023, afetando diretamente a comercialização de produtos oriundos de áreas desmatadas.

Os produtores de soja e associações do agronegócio brasileiro estão em alerta, discutindo como a nova regulamentação poderá impactar os negócios com a Europa. Eles destacaram que a EUDR afeta principalmente a soja oriunda da Amazônia e de algumas regiões do Cerrado, que apresentam desafios em termos de rastreamento e conformidade às normas de sustentabilidade.

É importante ressaltar que, na Amazônia, existe um acordo conhecido como Moratória da Soja, que impede as empresas de exportação de adquirir soja proveniente de áreas desmatadas após 2008. Essa iniciativa já estabeleceu mecanismos eficazes de monitoramento que permitem rastrear a soja até sua origem, o que pode facilitar a nova exigência europeia.

No entanto, existem incertezas quanto à implementação do sistema de checagem que os europeus querem aplicar. Segundo a Aprosoja, a falta de clareza pode gerar um aumento nos custos para os produtores e até mesmo impactar negativamente os preços pagos ao agricultor.

Outro ponto crucial é que a legislação europeia não faz distinção entre desmatamento legal, que é permitido sob o Código Florestal brasileiro, e o ilegal. Isso é uma preocupação significativa, já que muitos produtores brasileiros seguem normas rigorosas e possuem autorizações para suas atividades.

Além disso, a soja cultivada em áreas desmatadas após dezembro de 2020 representa apenas uma pequena fração da produção total: 0,4% na Amazônia e 0,8% no Cerrado. Contudo, essa porcentagem pode ser suficiente para um bloqueio no comércio, dependendo da interpretação da nova lei.

A questão do Cerrado é ainda mais complicated; não há uma moratória equivalente à da Amazônia, o que preocupa ambientalistas e defensores da sustentabilidade. A expansão do plantio nessa região, ligada ao desmatamento de novas áreas, pode resultar em sérias consequências para o comércio agrícola do Brasil.

Diante desse cenário, especialistas alertam que o Brasil precisa urgentemente se adaptar a essas novas exigências se deseja manter sua relação comercial com a União Europeia. O engajamento dos produtores nas novas práticas de rastreamento e conformidade é fundamental para garantir a continuidade da exportação de soja brasileira.

Esse debate sobre a sustentabilidade da produção de soja no Brasil se torna ainda mais relevante à medida que a pressão internacional aumenta por práticas agrícolas mais responsáveis. Portanto, resta saber se a soja brasileira está realmente preparada para atender a essas novas demandas, e se as vozes contrárias a legislação conseguirão um meio-termo que beneficie tanto o meio ambiente quanto a economia agrícola do país.