A Crise do Arquivo Digital: O que Acontece com a História da Internet?
2024-11-14
Autor: Julia
Pesquisas alarmantes revelam que aproximadamente 25% das páginas da web publicadas entre 2013 e 2023 desapareceram irreversivelmente. A conexão entre nosso presente digital e a preservação da história vem leveando especialistas a repensarem o futuro da comunicação global e da informação. Por que isso está acontecendo e o que pode ser feito para combater essa perda?
As evidências do passado, como os fragmentos de papiros e registros de sociedades antigas, ajudam a entender nossa história, mas o mesmo não pode ser dito sobre o que estamos produzindo hoje. Historicamente, documentos arquivados como o Domesday Book e as cartas da era vitoriana permitiram que nossos descendentes vissem como era a vida em tempos passados. Agora, no entanto, com a evolução digital, o cenário é drasticamente diferente. As plataformas digitais onde nossa sociedade interage diariamente estão se tornando efêmeras.
O fracasso em preservar nossas informações tem gerado preocupações entre historiadores e especialistas em tecnologia. O Internet Archive, fundado em 1996 por Brewster Kahle, destaca-se como um bastião na luta contra a amnésia digital. Com um acervo de 866 bilhões de páginas da web, 44 milhões de livros e 10,6 milhões de vídeos, essa organização sem fins lucrativos está na linha de frente da missão de preservar a história digital. Com unidades espalhadas pelo mundo, o Internet Archive é essencial para garantir que as informações do hoje não se tornem um mistério amanhã.
Mark Graham, diretor da Wayback Machine, um projeto do Internet Archive, observa que os riscos são muitos. Além das falhas tecnológicas, as instituições e empresas podem falir ou encerrar operações, deixando lacunas na preservação do conteúdo. A falta de incentivos para que empresas mantenham seus conteúdos ativos a longo prazo agrava a situação. Por exemplo, um estudo recente do Pew Research Center constatou que, entre as páginas da web acessadas em 2013, quase 38% não estão mais disponíveis.
Não é apenas no âmbito de páginas pessoais que essa questão se torna uma preocupação. O estudo indica que 20% dos websites governamentais contêm links quebrados, enquanto mais da metade dos artigos da Wikipédia apresenta informações que se tornaram inacessíveis ao longo do tempo. Essa perda significa que muitos dados cruciais que garantiriam a integridade do conhecimento digital estão desaparecendo.
Em contrapartida, a comunidade que ainda luta para manter a web acessível, como a Biblioteca do Congresso dos EUA, preserva páginas de websites governamentais e até mesmo arquivos do Twitter. Entretanto, esses esforços são fragmentados e limitados, o que levanta a questão: quem é responsável pela preservação da vastidão da informação digital?
As ameaças ao Internet Archive não se restringem apenas à problemas operacionais. Recentes batalhas legais com editoras e gravadoras, além de ciberataques, destacam a fragilidade da sua posição. Um tribunal já considerou ilegal a prática de empréstimo ilimitado de cópias digitais de livros durante a pandemia, uma ação que pôs em cheque a missão da organização. O futuro da preservação digital e a continuidade do Internet Archive dependem, portanto, de um intenso debate sobre direitos autorais e do apoio financeiro contínuo de doadores.
As observações de Andrew Jackson, da Coalizão para a Preservação Digital, revelam a gravidade da crise. A internet é uma plataforma dinâmica, mas as tendências de exclusão de conteúdos são preocupantes. Empresas como a CNET têm enfrentado repercussões severas por excluir artigos, que sem a intervenção do Internet Archive, estariam irreparavelmente perdidos.
Assim, o esforço para preservar a “memória digital” do mundo não é apenas uma questão de tecnologia, mas uma missão cívica. Todos nós deveríamos nos mobilizar para garantir que a história da internet não seja uma narrativa com buracos, mas sim uma crônica rica e acessível para as futuras gerações. Procurar por formas de apoiar essas instituições é essencial, pois, se não cuidarmos do que temos, corremos o risco de perder irremediavelmente nossa história coletiva.