Saúde

Você sabia que o cérebro tem uma 'rede de saliência'? Descubra como ela está ligada à depressão!

2024-10-26

Autor: Gabriel

Um estudo recente publicado na renomada revista científica Nature, no início de setembro, analisou a atividade cerebral de 141 pacientes diagnosticados com depressão e 37 indivíduos saudáveis. A pesquisa buscou compreender como a doença afeta a comunicação entre diferentes regiões do cérebro.

"Normalmente, analisamos o cérebro observando como suas regiões se comunicam, semelhante a uma chamada em conferência. A questão fundamental é entender com quais outras áreas do cérebro estão se conectando e a que rede pertencem", explicou Miriam Klein-Flügge, neurocientista cognitiva da Universidade de Oxford, ao comentar sobre a pesquisa, na qual não participou.

Os cientistas descobriram que a chamada 'rede de saliência frontoestriatal' apresenta uma ampliação significativa entre os participantes com depressão quando comparados ao grupo controle. Essa rede é crucial para direcionar a atenção, filtrar os estímulos que recebem foco e regular as reações emocionais diante deles.

De acordo com o pesquisador Roiser, "Ainda não temos uma compreensão completa do que essa rede realmente faz, mas sua importância em sintomas de saúde mental, como depressão e ansiedade, já é conhecida".

Ampla Rede de Saliência Pode Prever Depressão

Os resultados do estudo indicaram que a expansão da rede de saliência poderia ser um forte indicador preditivo do desenvolvimento de depressão em fases posteriores da vida. Em um grupo de crianças de 10 a 12 anos que mais tarde desenvolveram depressão na adolescência, a rede já se mostrava ampliada.

Klein-Flügge descreveu a descoberta como "empolgante e extremamente rara". Os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral dos participantes ao longo do tempo, tanto em momentos de saúde quanto durante episódios de depressão. Além disso, o estudo revelou que a intensidade da rede de saliência está relacionada a sintomas específicos da depressão, principalmente aqueles associados à perda de prazer e motivação.

No entanto, segundo a neurocientista Emily Hird, ainda não é possível determinar se as alterações na rede de saliência estão vinculadas a experiências psicológicas específicas ou a pensamentos depressivos, uma vez que a pesquisa apenas analisou o "estado de repouso" cerebral.

Remapeamento da Rede Saliência em Pessoas com Depressão

Diante do aumento da rede de saliência em indivíduos com depressão, uma dúvida permanece: Como acontece essa expansão? Roiser explica que a rede é remodelada para incluir áreas do cérebro que normalmente não estão ativadas nessa rede, incluindo zonas que estão fortemente ligadas à depressão.

"Os dados mostram que a rede de saliência interage com outras áreas cerebrais, incluindo uma região crucial na tomada de decisões que demandam esforço. Isso é fascinante porque sabemos que pessoas com depressão costumam hesitar em se envolver em atividades que exigem esforço", comentou Roiser.

Os especialistas acreditam que a conexão entre a prática de exercícios e a melhoria dos sintomas de depressão pode estar relacionada a essa alteração na rede de saliência. "O exercício físico se revelou tão eficaz para a depressão quanto os medicamentos antidepressivos ou a psicoterapia", enfatiza Roiser.

A Amígdala e o Processamento Emocional

Klein-Flügge expressou surpresa pelo fato de o estudo não ter abordado o papel da amígdala, uma área base para o processamento de emoções. "Essa região tem sido foco de pesquisas sobre depressão há décadas, e sabemos que ela desempenha um papel crucial na doença", comentou.

Um Novo Biomarcador para a Depressão?

Dada a consistência e previsibilidade da expansão da rede de saliência em indivíduos com depressão, Klein-Flügge sugeriu que essa métrica poderia se tornar um importante "biomarcador" para a condição no futuro. Biomarcadores são indicadores mensuráveis de doenças, como o teste de antígeno para a COVID-19.

Nesse contexto, a dimensão da rede de saliência poderia, eventualmente, servir como um marcador para prever a depressão.

"Para validar isso como um indicador confiável para o desenvolvimento da doença, será necessário ampliar as amostras e replicar o estudo", afirmou Klein-Flügge. No entanto, Roiser permanece cético quanto à possibilidade de que um biomarcador universal para a depressão seja identificado. "Acredito que a depressão não seja uma entidade homogênea, assim como os sintomas depressivos podem ser o resultado da complexa interação entre diferentes circuitos cerebrais em cada indivíduo", concluiu.

Este estudo abre novas portas para a compreensão da depressão, oferecendo esperança para o desenvolvimento de diagnósticos mais precisos e tratamentos eficazes. Fique atento para mais descobertas revolucionárias sobre a saúde mental!