Venda de trabalhos acadêmicos explode no Brasil e gera polêmica sobre ética e legalidade
2025-01-10
Autor: Maria
A prática de contratar serviços para a produção de trabalhos acadêmicos, apesar de geralmente envolver profissionais qualificados, tem crescido de maneira alarmante nas plataformas digitais. Com a popularização desse comércio, surgem também as queixas de clientes, especialmente sobre o uso da inteligência artificial (IA) na elaboração desses conteúdos.
Uma graduada em psicologia, que atua há oito anos nesse setor, revela que começou com serviços básicos de edição e revisão. No entanto, ao ser abordada por clientes dispostos a pagar mais para que ela escrevesse trabalhos inteiros, decidiu mudar seu foco. "As pessoas demonstravam muito mais interesse em que eu produzisse o trabalho a partir do zero", afirma.
Este 'bico' rapidamente se transformou em sua principal fonte de renda, que variava entre R$ 500 e R$ 3.500 mensais durante períodos sem emprego. A graduada ainda menciona que professores a indicavam para fazer trabalhos para outros alunos.
No entanto, a compra e venda de trabalhos acadêmicos não é apenas uma questão ética; ela pode implicar em consequências legais. O consultor Tobias Klen, especialista em propriedade intelectual, explica que o verdadeiro crime está na apresentação desses trabalhos como se fossem de autoria do estudante. Isso pode levar a penalizações por violação de direitos autorais e falsidade ideológica.
Allan Rocha de Souza, do Instituto Brasileiro de Direitos Autorais, reforça essa visão, esclarecendo que, ao comprar um trabalho, o estudante quebra sua relação com a instituição, pois ele se comprometeu a produzir sua própria obra. Além disso, a prática do plágio - copiar trabalhos de terceiros - é criminalizada. "Se você copiar, é uma violação de direitos autorais. Todos os envolvidos acabam implicados nesse processo", complementa.
O crescimento da demanda por trabalhos acadêmicos levou ao surgimento de plataformas especializadas, como StudyBay, que conecta estudantes a redatores ao redor do mundo. No Brasil, este site permite pedidos em diversas áreas do conhecimento e afirma contar com ex-alunos de universidades renomadas. Os estudantes frequentemente jogam um “leilão” de propostas, onde escolhem o produtor que mais se encaixa em suas necessidades.
Uma estudante de psicologia que começou a usar a StudyBay em 2020, revela ter conseguido ganhos três vezes superiores à sua bolsa de pesquisa apenas com a redação de artigos. Ela explica que a maior parte dos pedidos vem de alunos de instituições privadas, onde as opções para recuperação são limitadas. "Ao invés de pagar um absurdo para cursar novamente uma disciplina, preferem pagar alguém para fazer o trabalho", comenta.
Contudo, o que gera polêmica são as alegações de uso de inteligência artificial na composição desses trabalhos. Recentemente, a StudyBay introduziu uma ferramenta de IA que promete facilitar a redação acadêmica, mas muitos clientes têm reclamado sobre a qualidade e originalidade dos textos produzidos. Posts no Reclame Aqui mostram queixas de usuários insatisfeitos que esperavam trabalhos originais, mas encontraram conteúdos gerados por IA.
Por outro lado, a OLX, uma das plataformas que permite vendas de produtos diversos, esclareceu que anúncios relacionados a trabalhos acadêmicos são proibidos, uma vez que contrariam seus termos de uso. A plataforma se compromete a remover conteúdos suspeitos caso sejam identificados.
À medida que o debate sobre a legalidade e ética envolvendo a compra de trabalhos acadêmicos se intensifica, as universidades e instituições de ensino superior enfrentam o desafio de criar uma cultura de integridade acadêmica em meio à crescente digitalização e pressões econômicas. Porém, as soluções a esse problema ainda parecem distantes, enquanto os cidadãos continuam a buscar formas de contornar as dificuldades enfrentadas no ambiente acadêmico.