Vacina contra a dengue em 2025: Quem pode receber no SUS e na rede particular?
2025-01-08
Autor: Maria
Os meses iniciais do ano são marcados pelo aumento dos casos de dengue, uma doença que apresenta um padrão sazonal, intensificada por fatores como temperatura e umidade. Especialistas destacam que a vacinação é uma ferramenta crucial no combate a essa doença, embora, por si só, não seja suficiente.
Atualmente, o SUS (Sistema Único de Saúde) disponibiliza a vacina Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica Takeda, para crianças entre 10 e 14 anos. Essa escolha é baseada em orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), uma vez que essa faixa etária apresenta um risco elevado de hospitalização. Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp, esclarece que essa estratégia visa proteger as crianças e evitar a sobrecarga nos serviços de saúde.
Evaldo Stanislau, infectologista, ressalta a importância de reconhecer o histórico de surtos de dengue no Brasil, que começaram em 1986. Ele aponta que a maioria das pessoas nascidas desde então já teve contato com o vírus, especialmente em regiões endêmicas. Entretanto, a médica sanitarista Lídia Bahia alerta que as populações mais vulneráveis a casos graves, como adultos e idosos, não estão sendo contempladas pelo atual plano de vacinação, enfatizando a necessidade de ampliar o público-alvo.
Para 2025, o Ministério da Saúde adquiriu 9,5 milhões de doses da vacina. Desde fevereiro de 2024, quando a vacinação começou no SUS, já foram aplicadas mais de 3,7 milhões de doses em quase 2 mil municípios. Contudo, não há previsão de ampliação da faixa etária coberta pela vacinação pública, pois a produção mundial da vacina é limitada e é fundamental garantir a segunda dose para aqueles que já receberam a primeira.
No setor privado, a Qdenga também está disponível, com preços que variam entre R$ 350 e R$ 490 por dose. No entanto, as quantidades disponibilizadas são restritas, já que a prioridade é atender ao SUS. A Takeda mantém um estoque de segurança para garantir que os imunizantes cheguem aos pacientes do sistema público, além de assegurar a segunda dose para os que já iniciaram a imunização na rede particular.
Embora a vacina seja oferecida apenas para crianças no SUS, sua bula permite a aplicação em indivíduos de 4 a 59 anos. Não existem estudos suficientes sobre a eficácia em pessoas acima de 60 anos, e os especialistas, como Stucchi, alertam para a possibilidade de risco. No entanto, se um médico recomendar a vacina fora da bula para pacientes idosos, essa prescrição pode ser feita ciente das limitações potenciais.
A vacina, que utiliza um vírus atenuado, é contraindicada para gestantes, lactantes, pessoas imunodeprimidas e aquelas com alergias severas aos componentes da fórmula. Aqueles que tiverem reações adversas à primeira dose não devem prosseguir com o esquema vacinal.
Importância da vacinação
Stanislau e Stucchi enfatizam a necessidade de que todos, especialmente aqueles que podem pagar, se vacinem, quer pela rede pública quer pela privada. A vacina demonstra uma boa taxa de proteção contra os quatro sorotipos de dengue até 30 dias após a primeira dose, sendo recomendada para viajantes que se dirigem a áreas de surtos e que não terão tempo suficiente para receber a segunda dose. Assim, quem se vacinar em janeiro poderá tomar a segunda dose em março, garantindo uma proteção mais robusta.
Os especialistas destacam que a primeira dose prepara o sistema imunológico, enquanto a segunda dose proporciona proteção a longo prazo. No entanto, a diminuída adesão à segunda dose é fator de preocupação. Para otimizar a imunização, é essencial que indivíduos que perderem o prazo busquem completar o esquema vacinal, independentemente do tempo que tenha passado.
Dados mostram que o esquema completo com as duas doses proporciona 61,2% de proteção contra a dengue confirmada e 84,1% de proteção contra internações hospitalares, embora a eficácia varie conforme o sorotipo, sendo a proteção maior para os tipos 1 e 2 em relação aos tipos 3 e 4.
Além da vacinação, Stanislau alerta que somente a vacina não é uma solução completa contra a dengue. Ele defende uma abordagem integrada, com políticas públicas focadas em prevenir a proliferação do mosquito Aedes aegypti, principal transmissor da doença.
Em dezembro, o Instituto Butantan protocolou um pedido na Anvisa para registrar uma vacina contra a dengue que está desenvolvendo; se aprovada, o Butantan poderá disponibilizar até 100 milhões de doses nos próximos três anos, com possibilidade de entrega de um milhão de doses ainda este ano.
Cenário epidemiológico da dengue no Brasil
O Ministério da Saúde já está alertando para a expectativa de um aumento nos casos de dengue em 2025, em razão do fenômeno El Niño, que favorece a reprodução do Aedes aegypti. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná devem ver números superiores aos registrados em 2024.
Recentemente, houve um ressurgimento do sorotipo 3, especialmente em Amapá, São Paulo e Minas Gerais, apresentando riscos uma vez que a população possui baixa imunidade a este tipo, que não circula no Brasil desde 2008.
Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, destacou que o Ministério está monitorando a situação e investindo em ações de prevenção e controle de vetores. Ela enfatiza que estados e municípios precisam se preparar ativamente para enfrentar o aumento esperado de casos.