Vacina brasileira contra câncer de próstata conquista aprovação da FDA para ensaios clínicos
2024-11-02
Autor: Fernanda
Uma revolucionária vacina terapêutica contra o câncer de próstata, desenvolvida por uma equipe de pesquisadores brasileiros, recebeu aprovação da FDA (Food and Drug Administration), a agência reguladora dos Estados Unidos, para iniciar estudos clínicos. Essa conquista histórica marca a primeira vez que uma tecnologia desse tipo alcança esse estágio nos Estados Unidos, trazendo esperança para milhares de homens acometidos pela doença.
A vacina, elaborada a partir das células tumorais do próprio paciente, tem o objetivo de fortalecer o sistema imunológico na luta contra o câncer, diminuindo as chances de recorrência, além de complementarem os tratamentos tradicionais. Dados preliminares são promissores: a imunoterapia personalizada já mostrou reduzir a taxa de recorrência da doença de 37% para apenas 12%. Além disso, a mortalidade entre os pacientes tratados caiu impressionantemente de 12,8% para 4,3%.
O tratamento com a vacina, chamada FK-PC101, teve início com o primeiro paciente americano na última terça-feira (29). Este teste faz parte de um estudo adaptativo de fase 2, que envolve 21 centros de pesquisa nos Estados Unidos e deve se prolongar por até 22 meses. A expectativa é que os resultados iniciais estejam disponíveis em até 90 dias, permitindo avaliar a resposta dos participantes ao tratamento.
O médico e cientista Fernando Thomé Kreutz, responsável pela pesquisa, compartilhou que estudos anteriores realizados em pacientes brasileiros mostraram resultados significativos na diminuição de recorrências e mortalidade. Agora, com a validação nos 230 pacientes americanos, há a possibilidade de que essa imunoterapia possa, posteriormente, estar disponível em solo americano.
No Brasil, a equipe já está se mobilizando para garantir a aprovação junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Além dos benefícios médicos, Kreutz ressalta que essa imunoterapia pode representar uma significativa economia para os sistemas de saúde ao evitar a reincidência da doença, que onera o sistema de saúde pública.
"Atualmente, o tratamento convencional para câncer de próstata no SUS (Sistema Único de Saúde) custaria aproximadamente R$ 2,4 milhões por paciente. Isso limita o acesso a terapias inovadoras. Nossa abordagem tem o potencial de eliminar a necessidade de tratamentos subsequentes, que são, muitas vezes, caros e complexos", explica.
Os pesquisadores já vislumbram a possibilidade de expandir a vacina para o tratamento de outros tipos de tumores, como os gastrointestinais e pulmonares, que também têm incidências alarmantes e altas taxas de mortalidade. Esses novos estudos ficarão sob a coordenação do médico Alberto Stein, que enfatiza que a aprovação no Brasil pode ocorrer até mesmo antes da sua liberação nos Estados Unidos, um feito inédito para a medicina nacional.
Dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) revelam que um em cada oito homens terá o diagnóstico de câncer de próstata ao longo da vida, com um risco ainda maior entre homens negros. Embora as taxas de mortalidade tenham apresentado melhorias nas últimas décadas, o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento continuam restritos em várias regiões do Brasil.
O urologista Stêanio de Cássio Zequi, que atua no Centro de Referência de Tumores Urológicos do Hospital AC Camargo, destaca que, embora a imunoterapia apresente resultados promissores, ainda é restrita a uma pequena parcela de pacientes, com menos de 5% tendo acesso. Portanto, a ampliação do acesso a tratamentos básicos continua sendo a prioridade.
"Se conseguirmos expandir o acesso ao tratamento convencional, o impacto global será muito mais significante do que depender de imunoterapia, que ainda é cara e não amplamente disponível", alerta.
A imunoterapia funciona stimulando o sistema imunológico para combater células cancerígenas e pode ser ativa ou passiva. Com a ativa, vacinas e substâncias ajudam a aprimorar as defesas naturais do corpo; já na forma passiva, anticorpos ou células de defesa externas colaboram para o ataque às células tumorais. Embora ainda em estágio experimental, essa abordagem é vista como promissora, mas requer mais pesquisas para confirmar sua eficácia e segurança.
Estatísticas do INCA apontam que o Brasil deve registrar cerca de 71.730 novos casos de câncer de próstata anualmente entre 2023 e 2025, o que significa um aumento de 8% em relação ao triênio anterior. No país, essa doença representa aproximadamente 10% dos tumores malignos diagnosticados, com uma incidência que varia entre as regiões, sendo mais prevalente no Sudeste e menos comum no Norte.
Globalmente, mais de 1,4 milhão de novos casos são diagnosticados a cada ano, conforme dados do Globocan, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, o Brasil ocupa a quarta posição mundial em número total de casos, apenas atrás de Estados Unidos, China e Japão. Infelizmente, o câncer de próstata é responsável por aproximadamente 375 mil mortes ao redor do mundo anualmente. Essa nova vacina representa uma esperança renovada e um passo significativo em direção a tratamentos mais eficazes e acessíveis.