Ciência

Trump corta verbas da ciência e afeta pesquisadores brasileiros: ‘Situação gravíssima’

2025-04-08

Autor: Maria

O corte de verbas para o financiamento da ciência pela gestão Donald Trump gera impactos alarmantes em pesquisas ao redor do mundo, incluindo o Brasil, devido às diversas alianças internacionais. Um dos afetados é o pesquisador Ricardo Augusto Dias, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), parte fundamental de um projeto internacional que monitora o surgimento de novos patógenos nas Américas com o objetivo de prevenir futuras pandemias.

De acordo com Dias, o projeto do seu grupo, que visa 'evitar o surgimento de doenças emergentes e, potencialmente, novas pandemias', está congelado sem perspectivas de retomada, especialmente por estar relacionado às mudanças climáticas, um tema que o governo americano refuta abertamente.

Outro projeto que sofreu com os cortes é o coordenado pela imunologista Ester Sabino, da USP, focado na Doença de Chagas. Desde 2013, esse programa depende de recursos do Instituto Nacional de Saúde (NIH), recebendo um total de US$ 1,4 milhão por cinco anos (cerca de US$ 300 mil a US$ 400 mil por ano). Recentemente, os pagamentos foram realizados com atraso, elevando a incerteza sobre a continuidade da pesquisa.

“Não sei como as coisas vão ficar porque não recebi durante duas semanas, mas depois os pagamentos foram feitos”, disse Ester Sabino, que foi uma das cientistas responsáveis pelo sequenciamento do Sars-CoV-2 no Brasil durante a pandemia de covid-19. “Estamos aguardando para saber se a nossa pesquisa será renovada ou cancelada. Se bloquearem as verbas, seremos forçados a interromper o projeto.”

O pesquisador Marcelo Ferreira, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, enfrenta uma situação similar à de Ester. Embora sua verba não tenha sido cortada ou atrasada, não se sabe se seu financiamento será renovado. Ferreira realiza estudos sobre malária e teme que esse assunto não receba prioridade do governo dos Estados Unidos.

Nos primeiros meses da nova gestão Trump, que começou em 20 de janeiro, houve demissões em massa, cortes bilionários de verbas, cancelamentos de projetos e a nomeação de figuras controversas para cargos importantes em várias agências de pesquisa. Apenas nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), mais de mil funcionários foram demitidos, centenas de projetos foram cancelados e a avaliação de novas propostas foi suspensa. Esses institutos são responsáveis por financiar a maior parte das pesquisas biomédicas nos Estados Unidos e apoiar mais de 300 mil pesquisadores. Desde o início do novo governo, os NIH acumularam uma perda de mais de US$ 3 bilhões em comparação ao mesmo período de 2024, conforme reportado pelo Washington Post.

Entre 2018 e 2020, os Estados Unidos representaram 24,9% dos artigos científicos mais citados no mundo, perdendo o posto de líder para a China, que obteve 27,2%. Durante o mesmo período, a China também ultrapassou os Estados Unidos em volume de artigos publicados, com uma média de 407.181 por ano, comparados aos 293.434 dos americanos.

A nova política do governo dos EUA para a pesquisa científica também afetou Rodrigo Nogueira, um dos principais nomes em inteligência artificial do Brasil, cujos trabalhos em grandes modelos de linguagem voltados para o português brasileiro são referências no país. Com doutorado pela Universidade de Nova York, Nogueira teve seu visto negado recentemente para entrar nos Estados Unidos, onde deveria palestrar na Universidade de Harvard. Ele acredita que a negativa ocorreu em função do seu campo de atuação, que se transformou em uma arena de disputa global entre as potências mundiais.

Esses cortes podem ter consequências devastadoras não apenas para a pesquisa científica, mas para a saúde pública e a inovação global. A continuidade de projetos vitais está sob ameaça, criando uma situação de insegurança que afeta pesquisadores e populações ao redor do mundo.