Paulo começou a fumar aos 15 anos e, apenas quatro meses atrás, trocou os cigarros pelo vape. Infelizmente, casos graves como o dele estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil, acendendo um sinal de alerta entre médicos e autoridades.

A indústria promete um "novo cigarro", que seria mais saudável e seguro. Contudo, os riscos para a saúde pulmonar são alarmantes. A concentração de nicotina em um cigarro eletrônico pode ser até 57 vezes maior do que a encontrada em um cigarro comum. Assim, cresce o consenso de que o cigarro eletrônico não é uma alternativa viável para quem deseja parar de fumar.

Embora o Brasil tenha proibido a fabricação, importação e venda de cigarros eletrônicos desde 2009, essa restrição não impediu a popularização do vape. Influenciadores digitais promovem o uso em redes sociais, e um projeto de lei que visa regulamentar o uso desses dispositivos está sendo discutido no Senado, enquanto mais de 80 entidades médicas e órgãos como a Anvisa se manifestam contra essa regulamentação.

Pediatras e pneumologistas estão cada vez mais preocupados com a rapidez com que doenças aparecem entre usuários de vape, principalmente entre os jovens. Vera Borges, pneumologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), observa que jovens que usam por apenas cinco anos podem desenvolver DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), uma condição que em fumantes comuns pode levar décadas para aparecer.

No caso de Paulo, quatro meses de uso de vape resultaram em danos irreparáveis. Sua mãe, Débora Sampaio, relata que parte do pulmão do filho foi expelido durante um dos procedimentos cirúrgicos. Paulo precisou passar por três operações e, mesmo com tratamento intenso, ainda enfrenta severas limitações respiratórias.

A rápida disseminação do vape entre a população jovem também preocupa. Dados mostram que 25% dos jovens de 18 a 24 anos experimentaram cigarros eletrônicos em 2023, sendo que muitos o fazem apenas para acompanhar a tendência ou por curiosidade. A região Centro-Oeste registra o maior número de adolescentes que já experimentaram o vape.

Além da alta concentração de nicotina, os elíquidos de vape contêm substâncias prejudiciais como metais pesados e propilenoglicol, que são altamente cancerígenos. A pneumologista Maria Vera Cruz alerta que as consequências desse uso ainda estão sendo estudadas.

Um caso trágico foi o do dentista João Vitor Pereira, que faleceu aos 29 anos devido a uma pneumonia bacteriana. Ele havia trocado os cigarros convencionais pelo vape e fumava incessantemente. A mãe dele, Edicleia, conta que ele sempre dizia que o vape ajudava a controlar sua ansiedade. Infelizmente, essa dependência culminou em sua morte, o que abre um debate urgente sobre os riscos do vape entre os jovens.

Relatos de outra internação chocante foram feitos por Diego Mathias da Silva, de 39 anos, que, mesmo sem histórico de tabagismo, tornou-se dependente do vape em pouquíssimo tempo. Ao buscar atendimento médico com sintomas de pneumonia, os médicos se mostraram alarmados com o estado de seus pulmões após apenas três anos de uso. Ele ficou internado por dez dias e precisou fazer fisioterapia respiratória para recuperar a função pulmonar.

A oftalmologista Telma Antunes confirma que já atende pais preocupados com a dependência de seus filhos adolescentes ao vape, que, em muitos casos, começam a usar o dispositivo sem nunca ter fumado cigarros convencionais. A falta de pesquisas sobre os efeitos a longo prazo do uso do vape somente intensifica a preocupação, pois doenças como a bronquiolite respiratória estão surgindo de forma precocemente entre jovens.

Com o aumento alarmante de usuários de vape, a urgência em entender suas consequências para a saúde é cada vez maior. A dependência da nicotina já está se tornando uma nova epidemia entre os jovens, e a defesa inabalável da indústria sobre a segurança do produto está se mostrando uma armadilha traiçoeira. A pergunta que fica é: quantos mais precisarão sofrer antes que ações concretas sejam tomadas?