Sobrevivência das Lan Houses: A Reinvenção que Pode Salvá-las
2024-12-22
Autor: Julia
No corredor apertado da Espaçonet, localizada no mezanino de um prédio comercial no centro de São Paulo, Paulo César Biffe começa a listar os serviços oferecidos por sua lan house. Em determinado momento, ele faz uma pausa e diz: "Olha, é mais fácil você me perguntar o que a gente não faz."
Fundada em 2007, a Espaçonet era um ponto de acesso à internet, mas hoje sua sobrevivência vai muito além disso. Paulo e seu irmão, Emerson, perceberam que apenas fornecer acesso à internet já não é suficiente para manter o negócio de pé. "Nosso faturamento com o acesso à internet é menos de 50%. Quando inauguramos, era 100%", revela Paulo.
Esse fenômeno não é isolado. Outros comerciantes do setor relatam uma situação semelhante. Assim como as bancas de jornal que diversificaram suas vendas, as lan houses também se viram obrigadas a buscar novos serviços. Algumas estão oferecendo plastificação de documentos, recargas de celular e venda do Bilhete Único, mas os irmãos Biffe decidiram não seguir esse caminho. Eles explicam que a margem de lucro é muito pequena para esses serviços.
As mudanças começaram quando perceberam que a região atrai um grande número de imigrantes africanos. Assim, decidiram oferecer serviços relacionados à documentação, como pedidos de naturalização, que custam R$ 150 cada. Além disso, elaboram currículos para desempregados por R$ 20 e consultam o escore do Serasa pelo mesmo preço. Para contratos de locação, há um modelo padrão disponível.
"Eu fiz curso de contabilidade só para poder oferecer o serviço de declaração do Imposto de Renda", informa Paulo, ressaltando que não se trata de uma graduação completa. Para casos mais complicados, eles se associam a familiares, como um cunhado contador, para atender demandas específicas.
"Reconhecemos que precisamos nos reinventar. Não podemos nos manter apenas com internet. Agora estamos também abrindo MEI [Microempreendedor Individual]", explica Paulo, dando um passo a mais no mundo dos negócios.
Ainda que em momentos de pico, como perto do horário de almoço, alguns computadores fiquem ocupados, os irmãos admitem que os tempos áureos já passaram. Em 2008, cerca de 47,5% dos brasileiros acessavam a internet através de lan houses, mas o número de estabelecimentos caiu drasticamente. A pesquisa TIC Domicílios de 2024 mostra que, atualmente, 98% das pessoas acessam a internet de casa, enquanto apenas 7% frequentam lan houses.
Apesar da queda na frequência, a Espaçonet continua operando com promoções atrativas. Por exemplo, uma hora de internet custa apenas R$ 5, bem mais barato do que as recargas de pacote de dados para celulares pré-pagos, cuja clientela geralmente é de menor renda. Além disso, comerciantes estão dispostos a liberar o uso dos computadores mesmo que o cliente não tenha dinheiro suficiente, se o movimento estiver fraco.
A pandemia da Covid-19 representou um golpe devastador para muitos negócios, incluindo as lan houses. Paulo viu concorrentes fecharem suas portas e foi um período de incertezas para a Espaçonet, que precisou encerrar as atividades por meses quando o lockdown foi decretado. "Foi quase o fim. Quando reabrimos, perceberam que havia uma demanda represada de clientes", conclui Paulo.
As lan houses, que antes eram consideradas obsoletas, agora enfrentam uma nova era. Com a criatividade e adaptação certas, existe uma esperança de que esses estabelecimentos possam prosperar novamente. O que você acha? As lan houses têm futuro? Aguardar para ver!