Siria: Do Jubilo à Realidade Sombra
2024-12-24
Autor: Maria
A queda de uma ditadura sempre gera um justificado júbilo para os povos livres. No entanto, essa euforia não pode nos cegar para os perigos que se avizinham. Diversas transições políticas resultaram em regimes ainda mais autoritários ou em cenários de instabilidade caótica.
A HTS (Organização para a Liberdade do Levante), grupo que atualmente parece estar no controle da Síria, tem feito declarações que aparentam ser promissoras, prometendo a realização de eleições e o respeito aos direitos de diversas facções políticas e religiosas.
No entanto, as raízes da HTS não inspiram confiança. É um grupo salafita e jihadista que emergiu como um braço da Al-Qaeda de Osama bin Laden. Essa conexão com uma das organizações terroristas mais notórias do mundo levanta questões sobre sua governança e capacidade de promover a verdadeira liberdade e democracia.
Ademais, o que ocorre na Síria ecoa além de suas fronteiras. A queda da ditadura de Bashar al-Assad implica uma perda significativa para Moscou e Teerã, que sempre apoiaram seu regime. A diminuição da influência de líderes autoritários como Putin e Ali Khamenei é, sem dúvida, uma boa notícia para todos que anseiam por direitos humanos e liberdades civis.
Contudo, existem outros entraves. Entre os 'vencedores' deste novo cenário, estão país como a Arábia Saudita e o governo ultradireitista de Binyamin Netanyahu em Israel. Embora Israel seja considerado a única democracia no Oriente Médio, essa democracia se torna cada vez mais funcionalmente desafiada, especialmente após o ataque terrorista do Hamas em outubro de 2023, gerando uma carnificina sem precedentes entre a população palestina.
Sem a criação de um Estado palestino, a paz permanecerá como um sonho distante. A coalizão de Netanyahu rejeita qualquer possibilidade de um Estado para os palestinos, o que perpetuará a violência e o conflito na região. Surpreendentemente, após os desastres de segurança que culminaram no ataque de 7 de outubro e na guerra em Gaza, Netanyahu parece fortalecido, enfrentando agora novos desafios como os confrontos com o Hezbollah e a instabilidade no Irã.
Se Netanyahu conseguir se manter no poder nas próximas eleições, o futuro da região se tornará ainda mais incerto, com possível agravamento das tensões. Tais dinâmicas políticas indicam que a Síria, após a queda de Assad, pode não encontrar a estabilidade esperada, mas sim um ciclo de confrontos e violências, amplificando as crises humanitárias que já atormentam a população.