Rússia e Irã firmam aliança de 20 anos, mas disfarçam intenções militares
2025-01-17
Autor: Julia
Na última sexta-feira (19), a Rússia e o Irã oficializaram um acordo estratégico de 20 anos, com o objetivo de intensificar a cooperação econômica e militar entre os dois países, os quais enfrentam sanções administradas pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental. A assinatura do pacto, realizada pelos presidentes Vladimir Putin e Masoud Pezeshkian em Moscou, trouxe à tona questões sobre a natureza militar da aliança.
Para evitar a imagem de uma coalizão bélica, o documento enfatiza que o foco da parceria será principalmente comercial. “Trabalhamos muito pelo acordo, que beneficiará principalmente o comércio”, afirmou Putin. O pacto não contempla uma cláusula de defesa mútua, diferentemente de acordos anteriores, como o firmado com a Coreia do Norte no ano passado, que permitiu a enviá-la estimados 10 mil soldados para combater os ucranianos na região de Kursk.
Em caso de agressão, a nova aliança não permitirá que um parceiro ajude o agressor, embora o acordo mencione explicitamente a intensificação da coordenação na defesa e a realização de exercícios militares conjuntos. O Kremlin procura se resguardar de qualquer repercussão negativa, especialmente após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, que pode tentar forçar um fim na Guerra da Ucrânia em termos que beneficiem Putin.
Ambos os países estão cientes das pressões externas. As tensões entre o Irã e os Estados Unidos, especialmente em meio ao conflito no Oriente Médio, deixaram os aliados da Teerã, como Hamas e Hezbollah, em uma posição vulnerável. Após a guerra iniciada em 7 de outubro, o Irã se encontra em uma retirada táctil, buscando não agravar sua situação.
Apesar disso, a aliança entre Rússia e Irã tem um caráter que lembra um eixo anti-americano, já que a Rússia mantém parcerias militares com a Coreia do Norte e a Bielorrússia, além de estreitos laços com a China. A China, que fez dela uma aliança menos rígida na nova Guerra Fria iniciada na era Trump, possui um acordo de cooperação de 25 anos com o Irã, outorgando apoio a Teerã.
Embora ambos os países afirmem que não procuram se juntar a blocos militares específicos, é importante notar que o Irã é um membro dos BRICS, um grupo com forte influência da China e que, segundo análises, busca desafiar o domínio norte-americano. Desde o início da Guerra da Ucrânia em 2022, o Irã tem fornecido drones de ataque ao exército russo, além de tecnologia de armamento.
Recentemente, o Irã também procurou adquirir equipamentos militares avançados da Rússia, incluindo helicópteros e caças Su-35. Esta troca de tecnologia midiática despertou preocupações em países como Estados Unidos e Israel, que enxergam o Irã como uma ameaça latente.
Outro ponto de interesse em torno desta aliança é a possibilidade de um acordo secreto relacionado à transferência de tecnologia nuclear. O Irã e a Rússia, ambos afetados por sanções ocidentais, têm cooperado especialmente na área de energia, com a China sendo a compradora prioritária de seus recursos energéticos.
Além de aspectos militares, o acordo inclui ligações comerciais significativas, incluindo a negociação de um antigo projeto ferroviário na região do mar Cáspio, onde empresas iranianas operam no porto russo de Astrakhan. O Kremlin também manifestou intenção de expandir a construção de usinas nucleares no Irã.
Entretanto, desconfianças mútuas persistem. Um general iraniano expressou descontentamento com a falta de apoio da Rússia em conflitos anteriores, como na Síria, onde momentos de tensão evidenciaram a falta de coordenação nas estratégias.
A complexidade da relação entre Teerã e Moscou é marcada por interesses próprios, enquanto ambos tentam aumentar sua influência diante de um cenário global em que a China se destaca. Com uma economia que se equipara à do Brasil, a Rússia busca consolidar sua autonomia em relação a Pequim, mesmo com uma dependência ainda significativa desse parceiro econômico.
O comércio entre Rússia e China teve um crescimento histórico, contrastando com as interações econômicas do Irã, que são consideravelmente menores. Para os próximos anos, a aliança entre esses países pode moldar um novo cenário geopolítico, enquanto o mundo observa de perto cada movimento dessa parceria.