Restauração de Rádios Antigos: Um Legado que Custa até R$ 6.000 e Pode Estar com os Dias Contados
2024-12-23
Autor: Maria
Rogério Zambotto lembra com carinho de sua infância, quando via seu pai profundamente concentrado em consertos de rádios e outros aparelhos eletrônicos. Este fascínio pelo mundo dos eletrônicos o levou a se tornar técnico e, posteriormente, engenheiro eletrônica.
Por outro lado, Eduardo Monteiro, 62 anos, sempre foi um amante dos rádios. Desde criança, ele sintonizava diferentes estações AM, fascinando-se com os programas de conversa em vez de música. Eles não são apenas técnicos em restauração, mas também parte de uma tradição que parece estar desaparecendo. "A maioria das pessoas que costumavam fazer isso já faleceu", afirma Zambotto.
Enquanto a maioria dos jovens se despediu do rádio tradicional em prol das novas tecnologias, Zambotto e Monteiro persistem em seu ofício, que se restringe a um nicho cada vez menor. "Ouvir rádio pelo celular não é a mesma coisa. O charme do rádio está na experiência física de ter um aparelho em mãos", diz Monteiro. Ele conserta equipamentos em sua casa, e, infelizmente, não tem muita concorrência.
Zambotto, que também é servidor público federal, mostra um amor especial por rádios antigos que muitas vezes trazem à tona memórias familiares. "Trabalho principalmente com colecionadores. Eles trazem seus itens com um desejo profundo de restaurar algo que faz parte de sua história. Cerca de 99% dos meus clientes são assim", explica.
Os rádios AM e FM ainda são fabricados e vendidos no Brasil, mas a venda de aparelhos antigos não possui dados públicos disponíveis. O mercado de eletrodomésticos, que inclui eletrônicos, gira em torno de 60 milhões de unidades anualmente. A restauração de um rádio pode variar entre R$ 1.000 e R$ 6.000, dependendo do estado em que se encontra, sendo um processo muito mais complexo do que simplesmente substituir peças.
"Nos rádios antigos, tudo é delicado. Muitas vezes, já passei por um reparo em que o aparelho veio com modificações desnecessárias de outros reparadores", conta Zambotto. Ele opera em um pequeno espaço em sua casa na Vila Mariana, onde se depara com a escassez de peças e a necessidade de soluções criativas.
Ambos aprenderam a restaurar por meio de curiosidade e prática. Monteiro, por exemplo, observava seu pai consertando aparelhos e, com o tempo, adquiriu habilidades valiosas. Mas há uma questão em jogo: o rádio está se tornando obsoleto na era das plataformas digitais. Monteiro reflete: "Hoje, seria difícil ver um jovem carregando um rádio portátil. Nem em um estádio de futebol!".
A resistência a essa evolução é comum entre eles. Zambotto lembra que sua irmã mais nova descartaria um rádio restaurado sem pensar duas vezes. "Os jovens estão tão distantes das tradições que não se importam com o que consideramos significante", lamenta.
Por enquanto, eles seguem firmes em sua jornada, não vendo um fim à vista. Enquanto houver demanda entre colecionadores e pessoas com aparelhos antigos, a restauração continuará sendo uma opção viável. No momento da entrevista, Zambotto tinha três aparelhos sob sua mesa, prontos para avaliação.
O processo de restauração não deve ser apressado, podendo levar meses para ser completado. Zambotto também moderniza os aparelhos, adaptando-os para sintonizar FM e adicionando entradas Bluetooth, uma combinação que muitos puristas podem considerar uma profanação, mas que ele vê como uma ponte para manter viva a tradição do rádio.
"Muitos amigos acham absurdo modificar esses aparelhos. Mas sempre ressalto: sempre haverá quem valorize e queira esse tipo de produto. É uma forma de materializar a comunicação que começou com Gugliemo Marconi em 1895, e eu não deixarei essa chama se apagar!", conclui Zambotto.