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Responsabilidade Compartilhada: Ex-Diretor do BC Revela Que os Três Poderes Estão no Buraco Económico

2024-12-15

Autor: Lucas

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central (BC) e atual professor adjunto da Universidade de Georgetown, em Washington, compartilhou sua análise sobre a recente turbulência econômica do Brasil. Ele assumiu o BC em fevereiro de 2015 em um dos períodos mais difíceis da história econômica brasileira, quando a taxa Selic subiu dramaticamente de 7,25% para 14,75% ao ano sob a presidência de Alexandre Tombini. Essa decisão foi acompanhada por uma recessão severa, que, segundo Volpon, não foi causada apenas pelo aumento das taxas de juros.

Volpon afirma que o Brasil vivenciou um choque de juros significativo, com aumentos de quase 30% nas taxas, gerando incertezas no mercado. Ele explicou que o Banco Central adotou um "forward guidance" (orientação futura) inesperado, ou seja, a antecipação das próximas medidas que seriam tomadas, algo não comum para essa situação. Essa estratégia, segundo ele, foi uma forma de preparar o mercado para os ajustes que viriam, aliviando a pressão sobre o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo.

No entanto, Volpon alertou que a alta da Selic não é a única razão pela qual o real não tem se fortalecido. A frágil relação dívida/PIB preocupa os investidores, com projeções podendo chegar a 100%. Ele explicou que existem basicamente duas soluções: ajustes fiscais que reduzam a dívida ou permissões para um aumento da inflação, refletindo a realidade que foi observada durante a pandemia, quando os gastos explodiram e a inflação disparou em 2021 e 2022.

Quando questionado sobre a possibilidade de repetir essa abordagem inflacionária, Volpon foi cauteloso. A negociação de reformas fiscais é vital, mas desde então o governo parece estar optando por promover a inflação mais uma vez como a alternativa à queda da dívida. Para evitar uma fuga substancial de capitais e um aumento desesperador do dólar, o Banco Central precisaria manter a Selic alta, o que pode se tornar insustentável a longo prazo se os gastos públicos não forem estabilizados.

Ele lembrou que, na sua época de diretoria, a alta taxa de juros não gerava ganhos; pelo contrário, havia um impacto negativo no setor financeiro, onde várias gestoras enfrentaram dificuldades. Ele enfatizou que os custos elevados do crédito tiraram a competitividade das empresas e exigem atenção imediata.

A recessão em 2014, por sua vez, foi alimentada por um conjunto de fatores que incluíam o estímulo econômico excessivo, restrições de oferta e tensões políticas. A diferença entre agora e aquele período, segundo Volpon, é a ausência de pressão imediata sobre os preços públicos, embora a incerteza fiscal continue a persistir.

No contexto atual, Volpon questiona se o choque atual poderá levar a uma nova recessão, especialmente se não houver um ajuste fiscal significativo no horizonte. Ele alertou que a pressão das taxas de juros pode estrangular muitas empresas, exacerbando problemas preexistentes na economia.

Para concluir, Volpon ressaltou a responsabilidade compartilhada entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário na criação dessa crise econômica. Ele alerta que todos devem estar cientes de que o futuro econômico do Brasil depende da ação conjunta e da responsabilidade de cada uma dessas instituições em buscar soluções viáveis e sustentáveis.