Republicanos e Democratas: O Que Está Por Trás da Polarização nos EUA?
2024-10-30
Autor: Maria
A polarização política nos Estados Unidos está mais intensa do que nunca, criando um abismo social e cultural entre eleitores de diferentes partidos. Na próxima terça-feira (5), essa dicotomia se manifestará nas urnas, onde eleitores democratas e republicanos levarão visões de mundo completamente opostas.
De acordo com um estudo do Pew Research Center, impressionantes 80% dos seguidores da democrata Kamala Harris acreditam que o legado da escravidão continua a prejudicar os afro-americanos. Em contrapartida, somente 24% dos eleitores republicanos de Donald Trump compartilham dessa opinião.
A questão de gênero também revela profundas divisões: cerca de 60% dos eleitores democratas acreditam que uma pessoa pode se identificar com um gênero diferente daquele que lhe foi atribuído no nascimento, enquanto apenas 7% dos republicanos concordam com essa afirmação.
Além disso, o direito ao porte de armas é outro ponto polêmico. Enquanto apenas 18% dos apoiadores de Kamala Harris sentem que portar uma arma aumentaria sua segurança, quase 90% dos eleitores de Trump acreditam que ter uma arma consigo os tornaria mais seguros.
Essas divergências, apesar de não serem novidades, se tornaram mais acentuadas. Matthew Grossmann, professor de ciência política na Universidade Estadual de Michigan e autor do livro "Polarized Degrees", argumenta que quanto mais os americanos se educam, mais tendem a se alinhar com os valores democratas.
A cisão entre os partidos é exacerbada pelo sistema político bipartidário dos EUA, que oferece poucas opções além do Partido Democrata e do Partido Republicano. Isso leva os eleitores a escolherem não apenas um partido, mas um conjunto de valores que molda seus hábitos culturais e sociais. "A identidade partidária de uma pessoa é frequentemente revelada por suas preferências culturais", destaca Grossmann.
A polarização é evidente até em círculos famosos. Estrelas como Beyoncé e Taylor Swift declararam apoio a candidatos democratas, ilustrando como celebridades se alinham com um ou outro partido, algo que os fãs notam rapidamente.
No entanto, Grossmann observa que essa polarização extrema não precisa ser necessariamente negativa. Ele acredita que a cristalização dos comportamentos eleitorais mostra um fortalecimento das identidades de grupo e das ideologias, sem que isso signifique um movimento em direção a visões mais extremas. Por exemplo, nas questões sobre aborto, a maioria dos democratas se opõe à interrupção da gravidez, enquanto a maioria dos republicanos se opõe à ampliação dos direitos reprodutivos.
O que realmente preocupa, segundo Grossmann, é que os políticos e eleitores começam a perceber as eleições como batalhas existenciais. Essa visão transforma adversários em verdadeiros inimigos, e uma pesquisa recente da Universidade Johns Hopkins sugere que quase metade dos eleitores acredita que o partido rival é "totalmente malvado".
A construção de um diálogo que promova a união terá que vir das instituições, que precisam reforçar as semelhanças entre os cidadãos, para que a polarização não se torne uma barreira intransponível. O desafio está lançado: como resgatar um diálogo construtivo em um cenário tão fragmentado? O futuro da política americana depende disso.