Proibição de Celulares na Escola: Uma Necessidade ou uma Solução Temporária?
2024-11-01
Autor: Mariana
O psicólogo Jonathan Haidt, autor do best-seller "A geração ansiosa", alerta sobre a crescente relação entre o uso de smartphones e o aumento de transtornos de ansiedade e depressão entre jovens, fenômeno que vem se intensificando nas últimas duas décadas. Essa "infância baseada no celular" vem substituindo brincadeiras ao ar livre, afetando habilidades sociais fundamentais para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.
Com o objetivo de mitigar essa situação, países como Reino Unido, Espanha e Bélgica já implementaram legislações que proíbem o uso de celulares em ambientes escolares. Na última quarta-feira (30), a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados brasileira aprovou um projeto de lei similar, com o apoio do governo Lula (PT).
A especialista Danila Di Pietro Zambianco, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral da Unicamp, descreve o cenário atual nas escolas como um "semi-caos", onde professores enfrentam crescente dificuldade de comunicação com alunos e suas famílias. Em sua visão, a proibição dos celulares deve ser uma discussão mais abrangente, que envolva também a formação de empatia e o entendimento das interações virtuais.
Danila aponta que a dinâmica das redes sociais, impulsionadas por likes e notificações, possui um forte impacto na formação da identidade dos jovens. A construção das relações pessoais enfrenta novos desafios, especialmente na forma como as interações online geram ansiedade e insegurança.
Estudos recentes revelam que o Brasil é um dos países com maior tempo de tela do mundo. Casos sérios de suicídio nas escolas trouxeram à tona a urgência de um debate sobre a saúde mental dos estudantes. Os dados do Pisa mostram que o Brasil está acima da média mundial em transtornos mentais entre crianças e adolescentes.
É essencial que as escolas desempenhem um papel ativo nesta conversação, indo além de meras palestras e workshops. O currículo escolar também deve incluir discussões sobre a diferença entre o público e o privado, a empatia nas interações e a importância do contato humano direto.
Cerca de 60% das escolas brasileiras possuem regras sobre o uso de celulares, mas o que se observa é uma falta de clareza nos directionais a serem tomados. A coleta de celulares, por exemplo, gera desconforto entre estudantes e educadores.
A parceria entre escola e família é fundamental. Famílias que adotam práticas saudáveis em relação ao uso dos dispositivos eletrônicos podem influenciar de forma positiva o comportamento dos alunos. Por outro lado, a superexposição ao digital, aliado ao medo de "cancelamento", forma uma realidade onde muitos jovens evitam o contato visual e a interação verbal.
Por último, o brincar sem supervisão, fundamental para a construção da autonomia nas crianças, tem diminuído drasticamente. Essa superproteção pode resultar em uma falta de preparo para lidar com consequências, tanto no mundo real quanto no digital.
Em resumo, a questão da proibição de celulares nas escolas vai muito além de legislações; envolve uma profunda reflexão sobre o papel da educação contemporânea, a formação de relacionamentos saudáveis e a importância da convivência social em um mundo cada vez mais conectado e complexo.