Nação

Povo de Israel: ‘Uma hora eles podem sair do presídio’, alerta pesquisador

2024-10-27

Autor: Mariana

Jaider dos Santos Costa, doutorando em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), vem há anos estudando a facção conhecida como Povo de Israel (PVI). Desde 2018, ele se dedica a entender a dinâmica desse grupo, realizando entrevistas com ex-detentos que conviveram com a organização criminosa. Sua pesquisa traz à tona pontos relevantes sobre a exclusão social dentro do sistema penitenciário brasileiro.

O Povo de Israel é formado por presos que ocupam o "seguro", uma área destinada a aqueles que são rejeitados tanto pela sociedade quanto pelas facções tradicionais. Este grupo é composto por indivíduos como estupradores e estelionatários, que não são acolhidos pelas regras do crime organizado e nem pelo Estado. Dessa forma, eles se veem como dissidentes, um povo marginalizado e excluído.

Mas a pergunta que permanece é: eles se consideram uma facção? Nas entrevistas, Jaider descobriu que os membros do PVI não se veem dessa forma. Para eles, uma facção exige controle territorial fora do contexto prisional. O grupo, segundo os detentos, foi criado como uma necessidade de sobrevivência e proteção. Isso reflete a origem de várias facções que se formaram em resposta à falta de serviços básicos nos presídios.

Quando um novo detento chega ao PVI, um criminoso conhecido como “visão” — que exerce a liderança na cela — faz a leitura de um documento que contém aproximadamente 30 artigos com as normas de convivência. O descumprimento de qualquer uma dessas regras resulta em julgamentos e punições severas, que frequentemente se manifestam por meio de agressões físicas.

É notável também a forte influência religiosa presente nas normas do PVI. O estatuto do grupo inclui artigos que remetem diretamente aos mandamentos, como as proibições de roubar e cobiçar a mulher do próximo, evidenciando a moralidade religiosa entre seus membros.

Em relação à possibilidade do PVI expandir suas operações para além dos muros dos presídios, a pesquisa revela um potencial alarmante. Um grupo similar, chamado Abertos, que surgiu no Rio Grande do Sul, se tornou uma das maiores facções de rua em Porto Alegre. Isso levanta preocupações sobre a real capacidade de organização do PVI, que existe há mais de 20 anos sem obter a atenção necessária. Conforme os membros buscam alternativas que proporcionem maior lucro, a possibilidade de uma expansão significativa torna-se mais concreta. Afinal, uma hora eles podem, sim, sair do presídio, tornando-se uma ameaça ainda mais presente nas ruas.