Por que viver mais não significa viver melhor para as mulheres?
2025-01-15
Autor: Gabriel
A expectativa de vida saudável global caiu 1,5 ano, atingindo 61,9 anos em 2021, retornando ao nível de 2012.
No Brasil, segundo dados recentes do IBGE, a média de expectativa de vida em 2023 é de 76,4 anos. Para os homens, essa média chega a 73,1 anos, enquanto para as mulheres, a expectativa é de 79,7 anos.
Embora frequentemente se acredite que as mulheres sejam o "gênero mais saudável" devido à sua longevidade, um estudo recente desmistifica essa ideia, revelando que essas percepções errôneas têm consequências preocupantes, como o subinvestimento em pesquisas e o acesso inadequado a cuidados de saúde. Isso, por sua vez, amplia a disparidade de saúde entre homens e mulheres.
Incrivelmente, as mulheres passam 25% mais tempo em condições de saúde debilitada em comparação aos homens. Mais da metade dessa disparidade acontece durante os anos produtivos, afetando profundamente o PIB global. Segundo Valentina Sartori, líder global de desenvolvimento de serviços do McKinsey Health Institute, essa questão merece atenção imediata.
Mito 1: Mulheres são mais saudáveis que homens apenas porque vivem mais.
**Realidade:** Embora as mulheres possam viver mais, elas enfrentam 25% mais problemas de saúde e deficiências ao longo da vida. Assim, sua expectativa de vida saudável é inferior à dos homens. Enquanto homens passam, em média, seis anos com limitações de saúde, as mulheres enfrentam esses desafios por cerca de nove anos.
Mito 2: Problemas de saúde nas mulheres surgem apenas na velhice.
**Realidade:** Muitos problemas de saúde estarão presentes durante a fase produtiva da mulher, entre os 20 e 50 anos. Isso impacta não só a produtividade individual, mas gera efeitos significativos na economia global.
Mito 3: Saúde das mulheres se resume à saúde sexual e reprodutiva.
**Realidade:** Embora a saúde reprodutiva seja essencial, corresponde apenas a 5% das condições de saúde que afetam as mulheres. A lista de doenças que impactam desproporcionalmente as mulheres é longa e inclui condições como doenças autoimunes e doenças cardíacas, que muitas vezes se apresentam clinicamente de forma diferente nas mulheres.
Mito 4: A saúde das mulheres representa um pequeno mercado.
**Realidade:** Este pôr à margem a saúde das mulheres é um erro crítico. Muitas condições de saúde femininas, como a endometriose e os sintomas da menopausa, afetam milhões de mulheres em todo o mundo e carecem de pesquisas e inovações adequadas.
Estima-se que fechar a lacuna de saúde entre os gêneros poderia agregar à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano até 2040.
Dados e Investimentos em Falta
O estudo também revela que a falta de dados sobre a saúde das mulheres representa um obstáculo significativo. Isso se deve à falta de definição clara de "saúde feminina". Sem um consenso sobre o que constitui uma condição de saúde feminina e dificuldades em medir sintomas, torna-se desafiador capturar a totalidade do impacto na saúde das mulheres.
Adicionalmente, estudos médicos geralmente incluíram mais homens, negligenciando diferenças essenciais na progressão e tratamento de condições. Isso é alarmante, já que ensaios clínicos muitas vezes não têm amostras adequadas de mulheres, dificultando a avaliação da segurança e eficácia dos tratamentos desenvolvidos.
Quando dados são coletados, eles são frequentemente analisados sem considerar o gênero, resultando em informações cruciais que são perdidas. Esse ciclo vicioso de lacunas de dados e subinvestimento torna ainda mais difícil para as empresas investirem em novos tratamentos que poderiam beneficiar efetivamente as mulheres.
A endometriose é um exemplo claro. Estimativas da OMS apontam que cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva sofrem da condição. Em contrapartida, a Carga Global de Doenças apresenta números muito inferiores, entre 1% e 2%, provocando uma falta de confiança quenão ajuda a mapear corretamente o real impacto dessa condição.
As repercussões das lacunas de dados são devastadoras, resultando em:
- Diagnósticos errados e tratamentos atrasados; - Financiamento insuficiente para pesquisas; - Menos opções de tratamento para mulheres.
É essencial que a sociedade, governos e instituições de saúde reavaliem como abordam a saúde das mulheres, promovendo um entendimento mais amplo e investimentos adequados para que essas questões essenciais não sejam negligenciadas.