Ciência

Plutão pode ter 'capturado' sua maior lua após uma 'dança celestial'

2025-01-10

Autor: Julia

Cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, Plutão inesperadamente ganhou um companheiro. Por um breve período — possivelmente apenas algumas horas —, os dois corpos celestes 'dançaram' juntos antes de se separarem, resultando na complexa configuração atual do planeta-anão e seu grupo de cinco luas que orbitam o Sol.

Os astrônomos têm se perguntado há muito tempo como Caronte, a maior das luas que orbitam Plutão, passou a ter essa relação tão íntima com o planeta-anão. Uma pesquisa recente, publicada na revista Nature Geoscience, apresenta uma possível sequência de eventos que pode esclarecer essa questão intrigante.

"A razão pela qual Plutão e Caronte são tão fascinantes é que Caronte tem 50% do tamanho de Plutão," explicou a cientista planetária Adeene Denton, da Universidade do Arizona, que liderou o estudo. "A única comparação válida é feita com a Terra e sua Lua."

Com aproximadamente 1.200 quilômetros de diâmetro, Caronte é consideravelmente menor do que Plutão, que mede quase 2.500 quilômetros. Essa relação de tamanhos faz com que várias teorias tradicionais, que explicam como as luas se formam, se tornem improváveis, desconsiderando as noções de que Caronte poderia ter surgido de detritos em torno de Plutão ou de sua captura pela atração gravitacional do planeta.

Denton e sua equipe sugerem que Caronte pode ter sido resultado de uma colisão dinâmica, semelhante à que criou a Lua da Terra. No entanto, o tamanho e a proximidade dos dois corpos dificultam a explicação desse fenômeno, pois um impacto explosivo normalmente resultaria na fusão dos corpos.

Plutão e Caronte estão localizados no Cinturão de Kuiper, uma região do Sistema Solar externo além de Netuno, caracterizada por suas temperaturas extremamente baixas e composições rochosas. Ao incorporar essas características em seu modelo, os pesquisadores propuseram um cenário no qual os dois corpos colidiram e se tornaram capturados, sem se fundir completamente.

Se Caronte tivesse se aproximado de Plutão a uma velocidade relativamente baixa de cerca de 3.200 quilômetros por hora — muito mais lenta do que o impacto que formou a Lua da Terra — ambos permaneceriam em contato por cerca de dez horas, resultando em um processo que os pesquisadores descreveram poeticamente como um "beijo e captura".

A pesquisa aponta que esse encontro poderia ter alterado significativamente a geologia de Plutão, com a possibilidade de que "toda a superfície de Plutão teria sido reconfigurada," completou Denton. Isso também poderia ter levado à formação das outras quatro luas conhecidas de Plutão — Nix, Styx, Kerberos e Hydra — que são muito menores que Caronte e foram observadas pela sonda New Horizons da NASA em 2015.

Essa nova hipótese sobre as luas do Sistema Solar pode dar a oportunidade de reavaliar nossas compreensões sobre a formação de satélites naturais. "Isso desafia nossas suposições sobre a força e a única forma de captura em colisões," acrescentou Erik Asphaug, coautor do estudo.

Embora levará um tempo até que possamos enviar outra sonda para investigar Plutão, a equipe de pesquisa está ansiosa para estudar mais sobre os dados gravitacionais de Plutão. Denton ressaltou que isso poderia revelar se Caronte realmente deixou rastros de sua superfície em Plutão. "Infelizmente, precisaríamos voltar a Plutão para confirmar isso," concluiu.

Plutão continua a ser um dos mistérios mais cativantes do nosso Sistema Solar, e novas pesquisas podem desvendar segredos que moldaram sua história e o caráter das suas luas.