Ciência

Petroleiras usam influencers em estratégia de "greenwashing" enquanto aumentam produção de energia fóssil

2024-10-30

Autor: Ana

As gigantes do petróleo no Brasil, Petrobras e Shell, estão utilizando influenciadores científicos para promover conteúdos sobre "transição energética" nas redes sociais. Essa estratégia, segundo especialistas, visa suavizar a imagem das empresas e associá-las ao combate às mudanças climáticas, apesar de continuarem a expandir a produção de petróleo no país de forma agressiva.

Levantamentos recentes indicam que ao menos 34 publicações patrocinadas pelos perfis da Petrobras e da Shell com influencers de ciência geraram mais de 49 milhões de visualizações combinadas no Instagram, TikTok e YouTube entre dezembro de 2023 e outubro de 2024.

Os influenciadores envolvidos incluem nomes como Átila Iamarino, Ana Bonassa e Laura Marise (do canal Nunca Vi 1 Cientista), Bianca Witzel, e Pedro Loos (Ciência Todo Dia), que têm divulgado parcerias com as petroleiras em seus perfis.

Apesar dessa tentativa de se posicionar como defensoras da transição energética, a realidade do setor é alarmante: estimativas do setor sugerem um aumento na produção de combustíveis fósseis de cerca de 80% até 2030, contrariando as diretrizes estipuladas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vinculado à ONU, que pede uma drástica redução das emissões de gases de efeito estufa no mesmo prazo.

A situação é crítica porque, enquanto as petroleiras investem em marketing verde e parcerias com influenciadores, o aumento das emissões de carbono continua. O IPCC alerta que o mundo deve cortar as emissões pela metade até 2030 e limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, de acordo com o Acordo de Paris. Qualquer excedente além de 2°C indicaria consequências desastrosas.

De acordo com especialistas na área ambiental, esse "negacionismo soft" promovido pelas petroleiras pode ser mais perigoso que o negacionismo explícito, pois cria uma falsa percepção de que a indústria de petróleo está alinhada com os objetivos climáticos.

"As petroleiras buscam se posicionar como 'empresas de energia' que estão se preparando para um futuro sem petróleo, mas fazem isso a passos lentos, enquanto a ciência exige ação imediata", afirma Ilan Zugman, diretor da ONG 350.org, que defende uma transição energética justa.

Recentemente, a Petrobras anunciou mais investimentos em exploração de petróleo, com 7,5 bilhões de dólares, em comparação com apenas 7 bilhões em energias renováveis, mesmo promovendo uma narrativa de que está engajada na transição energética.

Essas táticas de marketing têm como objetivo manter a imagem da empresa como parte da solução para a crise climática, enquanto a produção de combustíveis fósseis continua sem interrupção. "O setor do petróleo se esforça para se distanciar do problema e capitalizar sobre a narrativa de que está contribuindo para a solução", diz Zugman.

Os influenciadores, que afirmam estar cientes dos impactos ambientais, acabam contribuindo para a normalização e perpetuação das práticas das petroleiras. A estratégia de marketing deles, segundo especialistas, funciona para oferecer uma espécie de "aval científico" às ações das empresas, mesmo que isso não reflita a realidade das consequências ambientais da exploração de petróleo.

Essas movimentações abriram o debate sobre a responsabilidade dos influenciadores e a ética da publicidade, levantando questões sobre como os consumidores apegam-se a essas narrativas apresentadas na forma de ciência.

Devemos ficar atentos a essa manipulação das informações e refletir sobre o verdadeiro impacto das fontes de energia que consumimos, além de exigir mais transparência e ações efetivas das grandes indústrias em relação às suas promessas de sustentabilidade.