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Pessimismo do mercado esconde dados positivos da economia brasileira

2024-11-07

Autor: Matheus

A incerteza em torno do cumprimento das regras do arcabouço fiscal tem gerado um ambiente de pessimismo em relação à economia brasileira. Entretanto, é fundamental destacar dados recentes que revelam um cenário positivo, como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), que superou as expectativas no primeiro semestre, e a elevação da nota de crédito do Brasil pela Moody's, um sinal de confiança da agência em relação ao país.

A situação atual

Há uma crescente preocupação sobre a execução do arcabouço fiscal. As incertezas geradas pelo aumento das despesas sem um correspondente aumento das receitas alimentam esse pessimismo. O mercado financeiro clama por um equilíbrio fiscal e critica a dificuldade do governo federal em realizar cortes de gastos que cumpram as promessas feitas pelo Ministério da Fazenda.

Analistas e investidores estão alarmados com a trajetória da política fiscal, que sugere aumento da dívida pública e das despesas reais nos próximos anos. Segundo Silvio Campos Neto, sócio da Consultoria Tendências, "somente a estabilidade fiscal será capaz de manter as taxas de juros em um patamar mais baixo. Caso contrário, iremos enfrentar juros altos e inflação".

A expectativa em torno do anúncio de cortes de gastos, que se tornam um tema central nos debates da equipe econômica em Brasília, tem agravado este clima de apreensão. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assegura que os cortes já estão definidos e têm a aprovação das pastas impactadas.

Há uma preocupação particular com a necessidade de estabilização das despesas ao longo de períodos significativos. Campos classifica as políticas que propõem um crescimento acima da inflação das despesas como o "carro-chefe das preocupações". Ele ressalta a importância de uma âncora fiscal para garantir estabilidade das perspectivas macroeconômicas.

Críticas em relação ao aumento da carga tributária surgem em resposta ao desejo do governo de recompor despesas. Freitas, por sua vez, argumenta que o Brasil já possui uma carga tributária considerável. Aumentar impostos sob o pretexto de tributar os mais ricos, segundo ele, seria um "tiro no pé" para o próprio país.

Impactos na vida real

As repercussões deste cenário adverso já são visíveis no dia a dia das famílias e empresas. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros em suas últimas duas reuniões, de 10,5% para 11,25% ao ano, uma medida necessária para conter a inflação, mas que desestimula o desenvolvimento econômico e impacta o mercado de trabalho.

Crescimento da nota de crédito

Recentemente, a Moody's elevou a nota de crédito soberano do Brasil de Ba2 para Ba1, colocando o país a um passo do grau de investimento. A decisão foi divulgada em 1º de outubro e reflete um crescimento econômico mais robusto do que o esperado, além do avanço em reformas econômicas e fiscais.

Entretanto, essa decisão não foi totalmente alinhada com as opiniões de outras agências de classificação, como Fitch e Standard & Poor’s, que manifestaram ceticismo quanto ao aumento do rating nacional. Segundo Todd Martinez, da Fitch, a classificação só poderia ser elevada se houvesse mais confiança na capacidade do governo de gerar superávits primários.

A reação do mercado foi mista, com analistas considerando a decisão da Moody's como precipitada, dado o ambiente incerto. Campos observa que "ainda existem muitos temas cruciais em aberto, especialmente no que diz respeito às contas públicas", o que resulta na percepção de que essa elevação de nota não tinha um embasamento técnico sólido.

Apesar do influxo de boa notícia, o mercado acionário não reagiu a favor, com o Ibovespa enfrentando uma queda de 1,6% em outubro, refletindo um cenário externo adverso, inclusive questões relacionadas à guerra e ao processo eleitoral nos EUA. Desde a alta da nota, os ativos brasileiros passaram por uma nova rodada de deterioração, evidenciando que a percepção de risco continua em alta.

A nota de crédito elevada não capturou o interesse de investidores estrangeiros. Em outubro, houve uma fuga de capital na bolsa brasileira, com perda de R$ 2,2 bilhões. Freitas comenta que “o mercado avalia a política do país e as condições gerais, chegando a suas próprias conclusões, independentemente das opiniões das agências de rating.”

Com um olhar no futuro, economistas já prevêem um possível rebaixamento do Brasil dentro de três anos. O pesquisador Samuel Pessoa, do FGV/Ibre, traz uma perspectiva que, embora razoável, levanta preocupações em relação à capacidade da equipe econômica de implementar as reformas necessárias. "É triste vermos o país com potencial de crescimento, mas preso por questões fiscais que não vão a lugar algum", conclui Freitas.