Ciência

Pesquisadora da Embrapa Alerta: 'Nenhum Biológico 'On Farm' é Livre de Problemas!'

2024-09-23

A renomada pesquisadora da Embrapa Soja, Mariangela Hungria, faz um importante alerta sobre a produção descontrolada de bioinsumos 'on farm', destacando os riscos e desafios no uso desses produtos. Com mais de 40 anos de experiência na microbiologia, Mariangela observa que, até o momento, não foi encontrado nenhum biológico 'on farm' que não apresentasse problemas, como contaminação e baixa concentração de células.

'Os inoculantes com registro podem ser comercializados mesmo com contaminantes, e isso é uma séria preocupação', explica a especialista. Ela acrescenta que a microbiologia requer um ambiente asséptico e conhecimento profundo das estirpes utilizadas. 'Não se trata apenas de misturar químicos ou realizar compostagem', ressalta Hungria.

Além disso, a pesquisadora enfatiza que os agricultores enfrentam desafios logísticos significativos para produzir biológicos de qualidade. Embora possam tentar montar biofábricas e reduzir custos, Mariangela alerta que o Brasil já é um dos países com os inoculantes mais baratos do mundo, tornando a produção local um dilema econômico complexo.

Mariangela avisa que a qualidade e a eficiência dos produtos biológicos são tão essenciais quanto a segurança e os custos. Ela observa que contaminações podem impactar não apenas as plantações, mas também a saúde pública: 'Estão acontecendo contaminações graves por patógenos que afetam a planta, os animais e até os seres humanos'.

Um exemplo alarmante é o uso do Azospirillum na coinoculação da soja. A especialista adverte que a dose exata é crucial; exceder a quantidade recomendada pode inibir o crescimento radicular ao invés de estimular.

Além disso, ela menciona o risco de contaminações cruzadas entre propriedades vizinhas: 'Os micro-organismos não respeitam cercas, então um patógeno em sua propriedade pode facilmente afetar a do vizinho'.

Mariangela também chama a atenção para a necessidade de regulamentação mais rigorosa, especialmente à luz dos riscos que podem afetar as exportações brasileiras. 'Produtos agrícolas do Vale do São Francisco, por exemplo, estão sendo tratados com bioinsumos que podem carregar patógenos prejudiciais, e isso pode gerar problemas quando forem detectados no exterior.', finaliza a pesquisadora.

Em um cenário global onde a qualidade dos produtos agrícolas é cada vez mais cobrada pelos mercados internacionais, a luta por regulamentações e processos de produção seguros se torna não apenas uma questão de responsabilidade, mas de sobrevivência econômica para o Brasil.