
Pesquisador brasileiro de IA enfrenta barreira de imigração nos EUA e aponta para boicote político
2025-03-20
Autor: Maria
Rodrigo Nogueira, um dos mais renomados especialistas em inteligência artificial (IA) do Brasil, teve seu visto de entrada para os Estados Unidos negado justo quando se preparava para dar uma palestra na Universidade Harvard, agendada para o dia 18 de abril. Fundador da startup Maritaca AI, que desenvolve modelos de linguagem como o ChatGPT, Nogueira atribui a negativa ao seu trabalho na área de IA, um campo que se tornou cada vez mais estratégico e competitivo no cenário global.
A Embaixada e o Consulado dos Estados Unidos no Brasil se abstiveram de comentar sobre o caso, afirmando que políticas internas os impedem de discutir questões relacionadas a vistos individuais. Nogueira, que passou pela entrevista no consulado em São Paulo em 27 de fevereiro, relatou que tudo estava aparentemente normal até mencionar sua atuação em IA, momento em que o clima da conversa mudou drasticamente.
Ele deveria participar do painel “Inteligência Artificial no Brasil”, organizado por professores brasileiros em Harvard e apoiado por instituições renomadas, incluindo o Centro de Desenvolvimento Internacional de Harvard. Após sua recusa, o evento foi transferido para um formato online; no entanto, Nogueira considera não participar como forma de protesto.
Com mais de 100 clientes no Brasil, incluindo o JusBrasil, que lançou recentemente uma ferramenta baseada na tecnologia da Maritaca, Nogueira tinha muito a compartilhar sobre os avanços em sua empresa. Ele afirma que, embora já tenha obtido vistos anteriores para estudar e viajar, questöes financeiras não foram levadas em consideração durante o processo de negação, com a ênfase claramente colocada em sua atuação na área de IA e na sua viagem a Taiwan para uma conferência em 2023.
"Se estivesse trabalhando em marketing, provavelmente não haveria problemas com meu visto. A combinação da minha atuação em IA e a viagem para Taiwan podem ter sido fatores determinantes", disse Nogueira. Ele também acredita que algumas de suas postagens críticas no LinkedIn sobre políticas de tecnologia podem ter contribuído para a percepção negativa sobre ele nos Estados Unidos.
Por ser um defensor fervoroso de que o Brasil deve desenvolver sua própria infraestrutura de IA, Nogueira utiliza sua influência para alertar sobre os riscos de depender de tecnologia estrangeira. "O que deveria ser uma questão técnica se tornou uma questão política", reforçou ele em uma de suas publicações.
A situação de Nogueira não é um caso isolado. Recentemente, o jornal francês Le Monde revelou que um pesquisador francês de espaço também teve sua entrada nos EUA negada após ser acusado de veicular "mensagens de ódio" contra o ex-presidente Donald Trump. O incidente levantou questões sobre liberdade acadêmica e o ambiente de pesquisa, levando até mesmo o Ministro de Ensino Superior e Pesquisa da França a defender a liberdade de opinião e o direito dos pesquisadores.
Enquanto o cenário internacional para pesquisadores se torna mais desafiador, a história de Rodrigo Nogueira serve como um alerta sobre os perigos que podem se ocultar nas relações entre ciência, política e imigração.