Padre nega envolvimento em golpe e se diz vítima de mal-entendidos: 'Direção espiritual'
2024-11-08
Autor: Maria
São Paulo — Em um depoimento que pegou muitos de surpresa, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, negou qualquer participação na elaboração de uma minuta de golpe ao prestar esclarecimentos à Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (7/11). Esse golpe foi articulado por pessoas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após a derrota nas eleições presidenciais de 2022.
O religioso foi alvo de uma operação da PF iniciada em fevereiro deste ano, e seu depoimento durou cerca de duas horas na Superintendência da PF em São Paulo. Outro indivíduo também foi intimado a depor no mesmo inquérito, que está gerando repercussão tanto no cenário político quanto no meio religioso do país.
O advogado Miguel da Costa Carvalho Vidigal, que defende o padre, considera que o depoimento foi favorável e mostrou evidências de que o padre não participou de nenhuma reunião ou colaborou na redacção de documentos que pudessem favorecer uma ruptura institucional.
Entretanto, ele expressou preocupação e espanto ao ser informado sobre conversas extraídas do celular do padre com fiéis e outros sacerdotes em busca de “direção espiritual”. Ele reiterou que essas mensagens foram tiradas de contexto e não tinham relação com a investigação.
"Estas conversas estão protegidas pelo Sigilo Sacerdotal, e essa invasão representa um precedente alarmante em nosso país. O Estado Laico exige uma total separação entre Igreja e Estado", destacou o advogado.
Em relação à operação da PF, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o padre fazia parte de um “núcleo jurídico” do suposto grupo golpista. Este núcleo, segundo as investigações, teria a função de assessorar e elaborar minutas de decretos que atendessem a interesses golpistas.
Em 19 de novembro de 2022, o padre teria participado de uma reunião com membros controversos, como Filipe Martins e Amauri Feres Saad, para discutir o plano golpista no Palácio do Planalto. Filipe Martins foi preso recentemente e é conhecido por seu papel de assessor durante o governo Bolsonaro. Já o advogado Amauri Saad é apontado como o autor da minuta que desencadeou a operação da PF.
A decisão de Moraes revelou ainda que o padre possui um site que evidencia vínculos com indivíduos e empresas envolvidas em disseminação de notícias falsas, o que levanta mais questionamentos a respeito de sua atuação.
Infelizmente, o padre José Eduardo agora enfrenta um mandado de busca e apreensão e se encontra proibido de se comunicar com outros investigados ou deixar o país, criando um clima de ansiedade e incerteza na comunidade católica.