Com a cotação do dólar ao redor de R$ 6,20 e a taxa Selic em impressionantes 14,25%, os efeitos sobre o agronegócio brasileiro são significativos e devem ser analisados com atenção. Leandro Gilio, professor e especialista em agronegócio no Centro de Agronegócio Global do Insper, destaca que a situação atual oferece um cenário de vantagens e desvantagens.

Para os exportadores de produtos agrícolas, a valorização do dólar pode aumentar a competitividade no comércio internacional. Contudo, por outro lado, uma moeda forte torna o acesso ao crédito mais complicado, especialmente para custear operações e realizar investimentos na produção.

É importante ressaltar que mais de 80% dos insumos utilizados no agronegócio brasileiro provêm de importação, o que torna a relação de troca desfavorável em tempos de dólar alto. Gilio observa que, se o governo não alterar a atual política fiscal, o novo Plano Safra 2025/2026, a ser lançado entre junho e julho de 2025, poderá enfrentar desafios relacionados a custos mais elevados, mantendo as taxas de juros nas mesmas alturas ou até superiores.

O cenário se complica quando consideramos o alto preço das terras agrícolas, que desde 2021 já estavam em níveis elevados. A tendência em períodos de incerteza econômica é que os investimentos em terras continuem a crescer, especialmente com a possibilidade de recuperação judicial para muitos produtores que se veem pressionados pelas altas taxas de juros.

Outro ponto a ser considerado é a movimentação dos Fiagros (Fundo de Investimento em Cadeias do Agronegócio). Os investidores podem se afastar dos fundos não atrelados ao CDI, buscando opções que lhes ofereçam maior segurança e rentabilidade. Os Fiagros indexados ao CDI tendem a ser mais procurados, mas a concorrência com outras alternativas, como títulos públicos, pode impulsionar uma migração significativa de capitais dentro do setor.

Diante desse quadro, a expectativa é de que as taxas de juros aumentem ao longo do tempo, demandando uma atenção especial por parte dos investidores e produtores, que devem se adaptar a esta nova realidade econômica. Com isso, a busca por alternativas de financiamento e estratégias para minimização de riscos torna-se ainda mais crucial para o sucesso no agronegócio.