
Os Impactos da Ofensiva de Trump nas Universidades Americanas
2025-04-04
Autor: Matheus
Estudantes organizam protestos massivos nos degraus da Low Library da Universidade Columbia em uma resposta à recente ofensiva do ex-presidente Donald Trump. Ao retomar a Casa Branca, Trump ameaça seriamente a pesquisa acadêmica nos EUA ao bloquear financiamentos e interferir nas gestões de instituições educacionais renomadas.
Com um Congresso majoritariamente republicano e a Suprema Corte sob influência conservadora, o presidente não tem encontrado dificuldades em honrar suas promessas de campanha: dizimar o que considera a ‘esquerda radical’ nos centros acadêmicos.
Recentemente, ele anunciou a suspensão de 1,8 bilhão de dólares em financiamentos a universidades como Harvard, Columbia, Princeton, Johns Hopkins e Universidade da Pensilvânia, alertando sobre punições adicionais caso essas instituições continuem a questionar ações do governo de Israel. Isso inclui apoiar manifestações estudantis relativas ao conflito em Gaza.
As universidades se veem obrigadas a recuar diante das pressões do governo, temendo as consequências de perder verbas federais. Dados da Associated Press mostram que, entre 2022 e 2023, as universidades sob ataque receberam aproximadamente 33 bilhões de dólares em financiamentos federais, correspondendo a cerca de 13% de seus orçamentos anuais.
Uma das consequências mais impactantes se deu com a Universidade de Princeton, que perdeu 210 milhões de dólares em bolsas de pesquisa, afetando diversos projetos críticos em parceria com o Departamento de Energia dos EUA, a NASA e o Departamento de Defesa. O reitor de Princeton, Christopher Eisgruber, chamou as ações de Trump de 'a maior ameaça às universidades americanas em décadas', prometendo que a instituição defenderá a liberdade acadêmica.
A Universidade Columbia, epicentro de protestos estudantis em favor da Palestina, sofreu uma severa punição no início de março, com a suspensão de 400 milhões de dólares em financiamentos, levando a mudanças drásticas nas suas políticas institucionais e a imposição de regulamentações mais rigorosas sobre protestos.
Harvard, uma das mais ricas do mundo, teve seus 9 bilhões de dólares em contratos federais revisados pelo governo após acusações de não proteger estudantes judeus e promover ideologias divisivas. Essa pressão resultou na suspensão de 255,6 milhões de dólares em contratos já em vigor.
Entretanto, a sanção mais drástica afetou a Universidade Johns Hopkins, que perdeu 800 milhões de dólares em apoio financeiro, sendo exigida a rever sua política interna em relação aos protestos estudantis.
As ações do governo Trump têm sido comparadas a tentativas de repressão que ocorreram durante a Guerra do Vietnã, quando universidades que promoviam o ativismo contra a guerra enfrentavam severas penalidades. No entanto, o uso extensivo de ordens executivas para almejar especificamente indivíduos e instituições que se opõem ao governo atual é algo sem precedentes.
Um aspecto inquietante dessa ofensiva é a repressão às vozes críticas, inclusive por meio de detenções. O caso da estudante turca Rumeysa Ozturk, detida por agentes federais após expressar em um artigo sua resistência a investimentos em empresas com laços ao governo israelense, é um exemplo da gravidade da situação.
Outros ativistas, como Mahmoud Khalil, também enfrentaram represálias. Ele, que foi preso em seu apartamento durante uma operação da polícia, corre risco de deportação, mesmo tendo um green card e uma esposa cidadã americana. A situação de Khalil reflete um clima de medo e repressão nas universidades onde estudantes temem represálias por suas opiniões e ações.
Além disso, a “guerra cultural” promovida pelo governo de Trump ainda abrange questões de diversidade, meio ambiente e direitos humanos. Com a suspensão de 175 milhões de dólares a universidades que adotam políticas inclusivas para atletas transgêneros, a administração foca em uma visão de educação que busca alinhar os valores educacionais ao seu ideário conservador.
A luta atual nas universidades americanas não é apenas sobre financiamento, mas a defesa da liberdade de expressão, a valorização da pesquisa e o respeito às diversas perspectivas que constituem o tecido social do país. A resposta da academia e dos estudantes a essa ofensiva poderá determinar o futuro do ativismo e da liberdade acadêmica nos Estados Unidos.