Ciência

OPINIÃO | Traição Climática: O Preço da Covardia Corporativa

2025-01-19

Autor: Fernanda

O retrocesso nas promessas corporativas em relação às mudanças climáticas também tem ecoado fortemente no Brasil. A JBS, famosa por suas controvérsias, recentemente revisou sua narrativa, alegando que seu compromisso de zerar emissões até 2040 era apenas uma aspiração, não uma promessa formal, mesmo com termos como "compromisso" e "promessa" estampados em seus materiais de comunicação.

Essa mudança de postura, exatamente na véspera da posse de Trump como presidente dos Estados Unidos, revela uma dura realidade: a crise climática passou a ser vista não mais como uma questão científica, mas como uma disputa ideológica. O que deveria ser um debate legítimo sobre soluções para o problema foi distorcido para discutir sua própria existência, já consensuada entre os cientistas.

Essas recaídas são um sinal claro de que muitos compromissos não eram sinceros, mas reflexos de uma busca por vantagens de curto prazo. O mesmo oportunismo que levou à adesão inicial agora se manifesta na atual debandada. Nunca foi sobre o planeta; tudo se resumia a interesses financeiros imediatos.

A BlackRock, uma gigante do setor financeiro, merece atenção especial por sua influência e histórico em integrar riscos climáticos nas decisões financeiras. Anteriormente, a empresa promovia uma narrativa de que a crise climática era central para a preservação do valor a longo prazo. Contudo, ao retroceder agora, a BlackRock enfraquece o ambiente de cooperação que ajudou a estabelecer no setor.

O impacto fiduciário dessa decisão é alarmante. Incorporar riscos climáticos nas análises financeiras não é uma escolha ideológica; é uma obrigação de boa governança. Mudanças climáticas afetam as finanças de formas profundas: riscos físicos podem comprometer cadeias de suprimento e desvalorizar ativos imobiliários. Ao mesmo tempo, os riscos de transição podem reprecificar ativos devido a regulamentos mais rígidos e mudanças de comportamento do consumidor, fazendo com que modelos de negócios se tornem obsoletos, resultando em perdas irreversíveis para empresas despreparadas. Ignorar esses fatores é falhar em proteger os interesses de longo prazo dos investidores.

Se essas instituições não compreenderam a gravidade da crise climática, sua adesão a compromissos foi ilegítima, buscando apenas validação pública. Se compreenderam e ainda assim optaram pelo recuo, a falha ética é ainda mais grave, priorizando o lucro imediato sobre o bem-estar de seus clientes.

É fundamental destacar que a inação climática traz custos financeiros diretos e indiretos inegáveis. Eventos climáticos extremos, como os incêndios na Califórnia em 2025 e as inundações devastadoras no Rio Grande do Sul em 2024, já causaram prejuízos bilionários a seguradoras, governos e famílias.

Além disso, cadeias de suprimento globais se tornam cada vez mais vulneráveis, o que compromete setores inteiros e afeta a disponibilização e os preços das commodities, principalmente agrícolas. O aumento no preço dos alimentos foi um dos principais fatores da inflação no Brasil em 2024, enquanto a quebra de safra resultou em prejuízos significativos para os investidores em Fiagros. A interdependência entre clima e finanças nunca foi tão evidente, reforçando a urgência de integrar estratégias de mitigação climática em qualquer análise financeira robusta.

Paradoxalmente, a agenda climática no mercado de capitais americano ganhou força durante o governo Trump (2017-2020). O risco de um abandono dos compromissos climáticos mobilizou investidores conscientes a intensificarem suas vozes e ações.

Embora o retrocesso por parte de instituições relevantes seja desanimador, também pode ser um catalisador para que aqueles que reconhecem a gravidade da situação se mobilizem e façam ainda mais para garantir um futuro sustentável.