Donald Trump sempre foi conhecido por seguir seu instinto, mas agora ele parece estar fazendo uma aposta ainda mais arriscada, confiando que pode mudar radicalmente as instituições americanas e a forma como o país se relaciona com o mundo. É uma crença quase mística de que os Estados Unidos se tornarão mais fortes e prósperos, enquanto o resto do mundo se ajusta a essa nova paradigmas. A pergunta que surge é: quais são as chances reais de que suas teorias, baseadas em conselhos de teóricos da conspiração, estejam corretas? A resposta é alarmantemente baixa.

É crucial reconhecer que a era em que estamos vivendo, embora cheia de desafios, é um dos períodos mais pacíficos e prósperos da história. Isso se deve em grande parte à globalização e ao comércio, mas também à liderança benevolente dos Estados Unidos, que souberam se entrelaçar economicamente com rivais como a China. O que Trump não consegue ver é que, com sua política externa agressiva e retórica isolacionista, ele está colocando em risco todas essas relações que foram da maior importância para o crescimento global.

Historicamente, os EUA permitiram que muitos países se beneficiassem do comércio, e essa dinâmica tem permitido que o mundo se tornasse mais rico e pacífico. A ascensão da China e sua retirada de milhões da pobreza são em grande parte resultado do sistema de comércio que os EUA ajudaram a criar. A colaboração com vizinhos como Canadá e México também gerou riqueza significativa, fortalecendo a economia na América do Norte como um todo.

Além disso, a aliança dos EUA com a OTAN e a União Europeia foi fundamental para a paz na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, até as tensões recentes com a Rússia. Essa parceria transatlântica é um dos pilares da segurança e prosperidade, e qualquer movimento para desmantelá-la poderia ter consequências desastrosas.

As recentes ações de Trump parecem desconsiderar essa história e essa interdependência. Ao transformar os Estados Unidos em uma potência predatória, Trump não só ameaça o futuro econômico do país, mas também sinaliza para o mundo que os EUA não são mais um aliado seguro. Isso prejudica a atração dos melhores talentos, uma vez que potenciais imigrantes percebem um ambiente hostil e retrógrado.

Se Trump estiver certo em sua visão, será uma surpresa extraordinária, e eu estarei pronto para admitir meu erro. No entanto, se ele estiver errado, estaremos todos colhendo a tempestade que ele semeou. O mundo, como um todo, está preocupado com essa possibilidade. Durante uma recente visita à China, muitos expressaram suas preocupações, referindo-se à história da Revolução Cultural de Mao, que devastou a economia e a sociedade chinesa de uma maneira que se reflete nas preocupações atuais dos americanos com a polarização política.

Stephen Roach, economista de Yale, também destacou que a Revolução Cultural, ao isolar a China, teve efeitos limitados. Se algo semelhante ocorrer nos EUA hoje, as repercussões seriam globais e devastadoras. A interconexão do mundo moderno significa que o que acontece nos Estados Unidos reverbera em cada canto do planeta, aumentando a urgência para que lideranças responsáveis tomem as rédeas e assegurem que a história não se repita.