Ciência

O Que Acreditam os Não-Crentes? Uma Análise Profunda

2024-11-12

Autor: Gabriel

Ao explorarmos a questão das crenças, encontramos um interessante diálogo epistolar entre o renomado escritor Umberto Eco e o teólogo Carlo Maria Martini. Embora à primeira vista pareça haver uma disputa entre o ceticismo representado por Eco e a defesa da fé por Martini, o que realmente se destaca é a abertura e o respeito mútuo entre os dois interlocutores.

Ambos buscam não apenas expor suas divergências, mas também encontrar pontos de convergência, especialmente no que diz respeito à ética. Os não-crentes acreditam na ética, e essa é uma área em que é possível estabelecer uma base comum. Não se deve reduzir a ética a um simples apetrecho cristão ou subestimar o fenómeno religioso na sua complexidade.

Eco, ao longo de sua correspondência com Martini, provoca reflexões que vão além das crenças individuais, questionando temas fundamentais como: - Há uma noção comum de esperança que crentes e não-crentes compartilham, especialmente em tempos de crise, como o final do milênio? - Como os teólogos se posicionam em relação ao criacionismo na era moderna? - Quais são os fundamentos para a rejeição do sacerdócio feminino nas igrejas? - A ética laica, ancorada no respeito e no bem-estar do outro, é suficiente por si só?

Eco afirma claramente suas intenções, sem rodeios. Para ele, os diálogos éticos entre o mundo católico e o laico são indispensáveis. Ele ressalta que, mais do que os rituais de etiqueta, é a ética que deve ser o foco da conversa.

A ideia de uma teologia política emerge, oferecendo uma perspectiva que visa promover o bem comum e a justiça. No entanto, é um desafio para os cristãos que atuam nessa esfera convencer céticos sobre a existência de um Deus em quem não acreditam. O objetivo é mais humilde: permitir que os não-crentes compreendam a fé dos crentes e como essa fé funde-se com a ética laica.

Enquanto Eco destaca a importância de uma abordagem humanística da ética, ele também menciona que os princípios humanistas podem, em algumas situações, alinhar-se com os princípios cristãos. Contudo, é fundamental questionar os fundamentos dessas éticas, pois as ações sociais estão profundamente enraizadas em motivações e valores.

No contexto brasileiro atual, essa discussão é ainda mais relevante. Observamos um cristianismo que, muitas vezes, prefere se isolar em suas convicções, promovendo um discurso de ódio que transforma o diálogo em monólogo. A exclusão de intelectuais e a concentração do discurso teológico nas elites eclesiásticas contribuem para um ambiente de mediocridade camuflada de religiosidade.

Diante dessa realidade, urge a necessidade de promover diálogos que busquem uma convergência na fundamentação humanística. O que realmente importa é a emancipação humana. O que creem os que não creem e como isso pode se alinhar com a fé dos crentes? Este é o verdadeiro desafio ao qual devemos nos voltar.