O peso argentino brilha globalmente, mas traz desafios para Milei
2024-12-29
Autor: Maria
Em 2024, o peso argentino se destacou como a moeda com melhor desempenho, fortalecendo-se em 44,2% em relação a uma cesta de moedas de seus parceiros comerciais entre janeiro e novembro. Este crescimento expressivo ocorre em meio a uma inflação anual de três dígitos, levantando debates sobre a viabilidade desse aumento na valorização.
Comparado a outras moedas, a segunda colocada foi a lira turca, que cresceu 21,2%, segundo dados da consultoria argentina GMA Capital. Essa valorização tem sido ainda mais notável em mercados paralelos, onde os argentinos buscam alternativas à taxa oficial, devido ao acesso restrito a essa última.
Os salários médios argentinos praticamente dobraram, alcançando US$ 990 (R$ 6.130) no mercado paralelo entre dezembro de 2023 e outubro deste ano, após um longo período de desvalorização contínua. Entretanto, essa valorização do peso não vem sem custos. O Banco Central argentino enfrenta dificuldades em manter reservas de moeda forte, utilizando dólares para suportar a força do peso.
Analistas começam a expressar preocupações sobre a possibilidade de uma desvalorização repentina, especialmente se a moeda brasileira se depreciar rapidamente ou se a nova administração dos EUA, sob Donald Trump, decidir implementar tarifas que afetem a Argentina.
O otimismo em torno do peso, denominado de "super peso" pela mídia local, é contrastante com o aumento dos preços em dólar, como observado em um Big Mac, que passou de US$ 3,80 (R$ 23,50) para US$ 7,90 (R$ 48,90) em um ano. Além disso, a siderúrgica Ternium alertou que os custos trabalhistas na Argentina estão 60% mais altos em comparação ao Brasil, o que pode afetar a competitividade das exportações argentinas.
A administração de Javier Milei, focada na estabilização da economia, mantém rígidos controles cambiais herdados de governos anteriores. Desde sua posse, em 2023, a moeda teve uma desvalorização inicial, mas permaneceu relativamente estável durante 2024. A inflação nesse período foi de 112%, enquanto a queda nominal do peso foi de apenas 18%.
Milei acredita que a Argentina pode se tornar competitiva por meio de reformas que favoreçam desregulamentação e excelência no acesso ao crédito. O governo espera que investimentos em setores como lítio e petróleo de xisto aumentem as exportações e ajudem a estabelecer uma economia mais robusta nos próximos anos.
Contudo, o futuro traz incertezas. A pressão para uma desvalorização do peso diminuiu temporariamente com a confiança crescente nas políticas de Milei, que permitiram que exportadores convertessem parte de suas receitas em dólares a taxas mais competitivas. Entretanto, as ameaças externas, especialmente de tarifas impostas aos mercados emergentes pela nova administração dos EUA, podem impactar significativamente a moeda e a economia argentina.
Além disso, o país enfrenta o desafio de manter um superávit comercial, algo inédito com o peso em níveis tão fortes. O verdadeiro teste para o peso ocorrerá quando Milei suspender os controles cambiais, um passo prometido para 2025, o que poderá expor a moeda a flutuações significativas no mercado.
O ex-ministro da Economia, Nicolás Dujovne, acredita que um peso flutuante poderia se sustentar próximo ao nível atual, desde que Milei mantenha a confiança do mercado e as reformas fiscais sejam efetivas. "A cada dia, a complexidade do que estamos lidando só aumenta", concluiu.