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O País onde o Povo 'Queima o Presidente' no Fim do Ano

2024-12-22

Autor: Julia

A Guatemala, marcada por grandes tragédias como a pandemia de COVID-19 que levou mais de 16 mil vidas, vive uma tradição peculiar e polêmica no período pré-natalino: a Queima do Diabo. Em meio a crises e desastres naturais, como furacões, a população se reúne nas ruas para incinerar representações humorísticas de figuras políticas, entre elas o atual presidente, Alejandro Giammattei.

No dia 7 de dezembro, véspera do dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, cidadãos se unem em fogueiras que, além de espantar maus espíritos, servem como protesto contra a corrupção e a má administração. A festa é uma combinação de riso e crítica social, onde itens como piñatas e bonecos de políticos se tornam alvos das chamas.

Essa tradição, que tem suas raízes provavelmente no século 19, evoluiu de festividades mais simples em que fogueiras eram acesas, para um evento carregado de simbolismo social. Originalmente, a Queima do Diabo era uma forma de purificação, mas, ao longo do tempo, a prática de queimar lixo e itens como plásticos e pneus acabou trazendo danos ao meio ambiente, levando a uma conscientização sobre os riscos dessa festividade.

Diante das críticas acerca da poluição, os guatemaltecos adaptaram a tradição. Surgiu, então, a ideia de queimar piñatas diabólicas, uma forma de manter a festa viva e, ao mesmo tempo, diminuir o impacto ambiental. E não parou por aí: politicamente engajados, os cidadãos começaram a queimar figuras de políticos corruptos, tornando a celebração não apenas uma festa, mas um ato de resistência.

Neste ano, a cidade de Antigua, um patrimônio cultural da Unesco, elevou a crítica ao queimar um "diabo ecológico". Essa nova abordagem visava alertar sobre os incêndios criminosos que devastaram a região do Vulcão de Água, uma calamidade que afeta frequentemente a bela cidade. O evento em Antigua também se lembrou da própria história da cidade, que foi reconstruída após a destruição provocada pelo vulcão em 1541.

A mensagem deixada por quem organizou a Queima do Diabo este ano foi forte e bem-humorada, ressaltando a importância da preservação ambiental e o heroísmo dos socorristas que combatem incêndios sem buscar reconhecimento ou fama.

Enquanto muitos guatemaltecos se alegram nas celebrações natalinas, a Queima do Diabo se destaca como um símbolo de luta contra o descaso e a corrupção. Com isso, fica a esperança de que o próximo ano traga menos queimadas e uma Guatemala mais justa e duradoura. Afinal, o fogo que renova também pode ser um chamado à ação por um futuro melhor.