O EXEMPLO DE RUANDA: COMO O PAÍS ENFRENTOU O SURTO DO VÍRUS MARBURG
2024-11-11
Autor: Carolina
O Ministério da Saúde de Ruanda confirmou os primeiros casos de infecção pelo vírus Marburg em 27 de setembro de 2023. Apenas duas semanas após o primeiro relato, o número de casos já havia saltado para 54, resultando em 12 mortes. No entanto, em um mês, a situação crítica de saúde pública, que poderia ter consequências catastróficas, foi rapidamente controlada em um país cuja economia possui um PIB de apenas US$ 13 bilhões, em comparação com o Brasil, que é 150 vezes maior.
O vírus Marburg, pertencente à mesma família do Ebola, é extremamente perigoso, com uma taxa de mortalidade que pode atingir 80%. Ele provoca uma febre hemorrágica com sintomas que se assemelham aos de outras doenças tropicais, tornando o diagnóstico inicial desafiador. À medida que a doença se desenvolve, pode resultar em danos ao fígado, hemorragias, choque, delírio e insuficiência múltipla dos órgãos.
A transmissão ocorre de pessoa para pessoa através do contato direto com fluidos corporais e superfícies contaminadas, colocando um risco elevado sobre cuidadores e profissionais de saúde. Este foi o primeiro surto de Marburg registrado em Ruanda. Por outro lado, países vizinhos já enfrentaram surtos anteriores com resultados trágicos; na República Democrática do Congo, um surto entre 1998 e 2000 teve uma taxa de letalidade alarmante de 83%. Em 2023, a Tanzânia também relatou um surto menor, mas fatal, com cinco mortes a partir de oito casos confirmados.
A resposta de Ruanda à crise foi notável. De acordo com o boletim de 3 de novembro, o país contava com 66 casos confirmados e 15 óbitos, resultando em uma taxa de letalidade significativamente reduzida para 22,7%. Importante destacar que não houve novos casos registrados, e dois pacientes, que inicialmente apresentaram falência de órgãos e estavam intubados, conseguiram se recuperar, segundo a National Public Radio (NPR) dos EUA.
Como um pequeno país africano, que há apenas 20 anos foi o cenário de um genocídio, pôde lidar de forma tão eficaz com essa ameaça? A resposta está em um investimento robusto em saúde pública, incluindo melhorias em infraestrutura, aquisição de insumos essenciais e capacitação de profissionais de saúde. Desde o diagnóstico do primeiro caso, as autoridades sanitárias demonstraram clareza no plano de ação e utilizaram adequadamente os recursos disponíveis.
O primeiro paciente hospitalizado apresentava também sintomas de malária, o que pode ter atrasado a suspeita inicial de Marburg. Contudo, após os médicos identificarem um possível contato com morcegos — os principais reservatórios do vírus — durante a atividade de mineração do paciente, a resposta institucional foi rápida e bem-estruturada. O rastreamento de contatos e a testagem foram amplos: profissionais de saúde que tiveram contato com o paciente foram isolados e testados, e uma ala separada para os infectados foi criada no hospital, equipada com os devidos protocolos de segurança.
A população recebeu orientações sobre cuidados e prevenção, e a instrução clara era que aqueles com sintomas deveriam contatar o serviço de saúde e evitar o pronto socorro para não contagiar outras pessoas. Equipes de saúde, devidamente equipadas, realizaram visitas domiciliares e mais de mil familiares e profissionais foram monitorados. Ao todo, mais de seis mil testes foram realizados em Ruanda durante a crise.
Não existem segredos sobre como conter surtos de doenças infecciosas; o que realmente faz a diferença é a agilidade e a assertividade na resposta, além da vontade política de implementar as recomendações científicas. A comunicação aberta e efetiva com a população também se mostrou crucial ao evitar o pânico e a desinformação. O rápido monitoramento e testagem possibilitaram diagnósticos em estágios iniciais da enfermidade, evitando que pacientes chegassem ao hospital em situações críticas. Que a experiência de Ruanda seja um paradigma para o mundo na luta contra doenças infecciosas!