O Colapso do Turismo Brasileiro na Argentina: O que Está Acontecendo?
2025-01-08
Autor: João
A situação do turismo argentino está em um estado de alerta. Nos últimos três meses que precederam o verão na Argentina, os dados oficiais revelam que o número de turistas brasileiros caiu drasticamente. Enquanto isso, países como Chile e Uruguai também vivenciam uma considerável queda no fluxo turístico, mas o Brasil se destaca como o principal mercado afetado.
O cenário econômico em que os argentinos se encontram, com uma desvalorização artificial da moeda promovida pelo governo de Javier Milei, fez com que muitos brasileiros reconsiderassem suas viagens para o país. Ao mesmo tempo, o recuo na inflação que antes parecia promissor, acabou com a expectativa de preços baixos que os turistas experimentaram em 2023. Já são oito meses consecutivos de quedas no setor de turismo.
Os números mais recentes mostram que em novembro houve uma queda geral de 19,2% na chegada de turistas em comparação ao ano anterior. Para os brasileiros o impacto foi ainda mais severo, com uma diminuição de 20,3% em outubro, fazendo do Brasil a nacionalidade que mais movimentava o turismo argentino.
Os estabelecimentos comerciais que dependiam do fluxo constante de turistas brasileiros sentiram o golpe. Localizada na renomada região de Mendoza, a Bodega Santa Julia, conhecida por seu enoturismo e com voos diretos de São Paulo, registrou 20% menos turistas brasileiros em comparação ao ano anterior. Julia Zuccardi, parte da administração, comentou: “A situação piorou após setembro e não há uma expectativa otimista nesse momento. Embora ainda recebamos turistas que valorizam nossa gastronomia e vinhos, o público em massa, que via a Argentina como um destino acessível, diminuiu significativamente.”
Além disso, recentemente viralizaram vídeos nas redes sociais que comparam preços de supermercados entre Brasil e Argentina. Embora algumas das comparações tenham sido falhas, como utilizar marcas incompatíveis, é inegável que os preços em geral na Argentina estão subindo. Segundo a consultoria PriceStats, fundado por professores do MIT, a Argentina está aproximadamente 19% mais cara do que o Brasil na compra de uma cesta de produtos similares, considerando a conversão em dólares.
Com a crescente valorização do peso argentino, muitos brasileiros estão trocando seus reais ou dólares mais frequentemente, percebendo que o poder de compra é inferior ao que imaginaram. Julio, um comerciante de câmbio, destacou que pagamentos em dinheiro ainda são amplamente aceitos e que muitos lugares oferecem descontos de 10% a 20% para transações em espécie.
Em contrapartida, o alto custo de vida na Argentina está fazendo com que os próprios argentinos busquem destinos mais acessíveis como Brasil e Chile, onde conseguem hotelaria e alimentação por preços mais em conta. A desvalorização do real também impactou essa balança, tornando o Brasil uma opção ainda mais interessante.
Mesmo diante da queda no turismo receptivo, o número de argentinos viajando para o exterior subiu 43% em novembro. Em resposta a essa situação, a mídia argentina abordou frequentemente a alta demanda de argentinos por viagens ao Brasil, incluindo até dicas sobre o uso do Pix, o sistema de pagamento instantâneo brasileiro.
A preocupação em revitalizar o setor é tanta que o secretário de Turismo do governo Milei, ex-embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, sugeriu atrasar o início das aulas escolares para estimular o turismo doméstico após o Carnaval. Porém, essa proposta não foi bem recebida pelas autoridades locais, que insistiram que a educação não deve ser uma moeda de troca em tempos de crise.
Enquanto isso, o Brasil se prepara para receber um fluxo maior de turistas argentinos nos próximos meses, e todos se perguntam: será que a Argentina conseguirá reter seu apelo turístico ou o êxodo continuará?