Novas Evidências Revelam que o Parkinson Pode Ter Início no Intestino
2024-09-26
Autor: Carolina
BARRA MANSA, RJ - Pesquisadores dos Estados Unidos trouxeram à tona novas evidências que apoiam a teoria de que a Doença de Parkinson pode começar no intestino. Ao analisar dados de mais de 9.000 participantes sem histórico da doença, os especialistas identificaram um aumento significativo no risco de desenvolver a neurodegeneração entre aqueles que apresentavam danos na mucosa do trato gastrointestinal superior.
Eduardo Zimmer, professor da UFRGS, destaca que é muito comum que pacientes com Parkinson sofram de constipação. Esse fenômeno gerou um crescente interesse entre os cientistas para investigar a relação entre o intestino e o cérebro, considerando que existe uma comunicação direta entre esses dois órgãos que é crucial para a saúde do sistema nervoso.
Para testar essa hipótese, os cientistas introduziram uma proteína chamada alfa-sinucleína, que está associada ao desenvolvimento da Doença de Parkinson, em seus estudos. Posteriormente, essa proteína foi encontrada no cérebro dos participantes, indicando que ela pode atravessar as barreiras fisiológicas que protegem o cérebro.
O estudo se baseou em dados de uma coorte extensa, onde foram realizadas endoscopias na parte superior do aparelho gastrointestinal de mais de 9.000 pacientes. Os resultados mostraram que um quarto dos participantes havia sofrido danos na mucosa, atribuídos a diversos fatores como infecções por Helicobacter pylori, uso contínuo de anti-inflamatórios, refluxo, tabagismo e constipação.
Após um acompanhamento de 15 anos, os investigadores descobriram que aqueles com danos na mucosa apresentaram uma taxa maior de desenvolvimento de Parkinson, revelando uma correlação importante. Esses danos estão fortemente ligados à disbiose intestinal, desequilíbrio na microbiota que pode propiciar o crescimento excessivo de algumas bactérias em detrimento de outras, especialmente entre aqueles com histórico de infecção por Helicobacter pylori.
Essas bactérias podem produzir substâncias que migram pelo corpo e, consequentemente, atingem o cérebro, onde podem disparar processos neurodegenerativos. A pesquisa foi publicada na renomada revista científica Jama (Journal of American Medical Society).
Zimmer enfatiza que para manter a saúde cerebral e mental, é cada vez mais evidente que a interação entre o eixo intestino-cérebro é vital. "Para preservar a saúde do cérebro, devemos cuidar também da saúde intestinal e do equilíbrio da microbiota. Essas descobertas podem abrir novas possibilidades para tratamentos no futuro."
Além disso, um estudo publicado no ano anterior na revista Alzheimer’s and Dementia analisou os efeitos de um programa de 24 semanas de mudanças de estilo de vida em pacientes que, embora sem demência, tinham pelo menos um fator de risco. A pesquisa demonstrou que aqueles que participaram das intervenções tiveram uma redução significativa no risco de desenvolver demências e doenças neurodegenerativas.
Por outro lado, Bruno Lobato, professor e pesquisador da UFPA, alertou que doenças neurodegenerativas são complexas e não podem ser atribuídas a uma única causa. Ele tem focado sua pesquisa no impacto de pesticidas no desenvolvimento dessas doenças. Segundo Lobato, a exposição a defensivos agrícolas através da alimentação pode alterar a microbiota intestinal de forma significativa, acelerando o quadro clínico de doenças como Parkinson.
Estudos que recrutaram mais de 700 pacientes com Parkinson e 400 controles mostraram uma relação preocupante entre a alta exposição a pesticidas (mais de 30 dias ao ano) e a probabilidade de desenvolver essa neurodegeneração. Os resultados dessas investigações também foram divulgados na revista científica Parkinsonism and Related Disorders.