Ciência

Neurociências: Por Que as Luzes de Natal Despertam Emoções Intensas?

2024-12-24

Autor: Carolina

Quando chegam as festividades natalinas, as luzes e decorações evocam memórias profundas que ativam a amígdala, a área do cérebro responsável pelas emoções. O neurocientista Antonio Carlos Cruz Freire, professor na Universidade Federal da Bahia, enfatiza que a amígdala reage intensa e frequentemente a essas memórias, especialmente porque elas se acumulam a cada ano. Cada Natal não é apenas uma data; ele representa uma combinação de eventos passados, alegrias e tristezas que moldam nossas emoções.

"A celebração do dia 25 de dezembro envolve uma carga simbólica desde a infância, conectando-a ao nascimento de um salvador", explica Freire. Esse contexto cultural não só gera sentimentos de alegria e esperança, mas também provoca uma sensação de saudade ou até mesmo de culpa, especialmente em relação à história do menino Jesus. Essa ânsia emocional se intensifica com a associação da festa a momentos de convivência familiar, que em muitos casos são acompanhados por histórias de perda e nostalgia.

A ressonância emocional se intensifica ainda mais em momentos marcantes, como um abraço desejado ou a entrega de um presente esperado, criando uma etiqueta mental de "noite feliz" em nossas lembranças. Mas nem todas as memórias são boas; algumas podem evocar tristeza, frustração ou sentimentos de falta.

Essas lembranças então são transferidas para o hipocampo, a parte do cérebro que organiza e consolida as memórias. O hipocampo desempenha um papel crucial em diferenciar as memórias que devem ser armazenadas das que podem ser esquecidas, priorizando aquelas que trazem emoções mais intensas, sejam elas positivas ou negativas.

Curiosamente, o "depoimento emocional" do Natal não se limita a experiências alegres. O fenômeno do "resgate em bloco" pode fazer com que pessoas revivam memórias negativas associadas a essa época do ano, contribuindo para um aumento na demanda por terapeutas e psicólogos durante o final do ano. Muitas pessoas enfrentam desafios relacionados a traumas e tristezas que se intensificam com a chegada do Natal.

Freire ressalta que nem todos os indivíduos conseguem transformar lembranças negativas em positivas. O peso dessas memórias adversas pode se manifestar em sintomas físicos, como aumento da pressão arterial e episódios de ansiedade. Para aqueles que enfrentam desafios emocionais, a era natalina pode ser um período de grande desconforto.

Entretanto, é possível trabalhar a ressignificação dessas experiências. O neurocientista alerta que, embora existam poucos estudos específicos sobre o impacto do Natal no cérebro, é possível aprender a lidar com essas emoções por meio de práticas como a terapia, ajudando a fazer a transição das memórias de uma caixa de dor para uma gaveta de pequenas alegrias.

As luzinhas brilhantes, o perfume característico de ceias e a música suave que toca ao fundo são gatilhos que podem abrir diferentes gavetas emocionais. Ao acionar a lembrança de bons momentos, como a montagem da árvore de Natal na infância ou os encontros familiares, as pessoas podem reencontrar esse ânimo positivo. Portanto, se ao olhar as decorações você sentir um aperto no coração, saiba que a transformação é possível, e o Natal pode sim ser um tempo de renovação e alegrias relembradas.