Ciência

Mudanças climáticas transformam os 10 maiores desastres dos últimos 20 anos em tragédias ainda mais letais

2024-11-01

Autor: Lucas

Na contagem regressiva para a COP29, a conferência climática da ONU que acontecerá no Azerbaijão, um relatório impactante revela que os dez desastres climáticos mais mortais das duas últimas décadas foram exacerbados pela queima de combustíveis fósseis. Desde 2004, mais de meio milhão de vidas foram perdidas em todo o mundo devido a esses eventos extremos.

"A população começa a compreender que a mudança climática já está elevando os riscos à vida", afirma Friederike Otto, professora do Imperial College London e cofundadora da Organização World Weather Attribution, responsável pela análise. Ela ressalta a urgência de transformar o conhecimento científico em ações efetivas em escala global, algo que ainda não foi concretizado.

Embora as evidências sobre como o aquecimento global está colocando a vida humana em risco sejam abundantes, 2023, marcando o status de ano mais quente já registrado, também alcançou um recorde de emissões de gases de efeito estufa. As consequências disso são alarmantes, especialmente com a iminente COP29 e uma escolha política crítica nos Estados Unidos.

"Estamos em um ponto de inflexão decisivo", comentou Michael Gerrard, especialista em direito ambiental da Universidade Columbia. No próximo mês, os cidadãos americanos terão que decidir, em uma eleição crucial, qual será a direção de suas políticas climáticas. Uma vitória de Kamala Harris poderia reforçar os esforços do governo Biden em transitar para energias renováveis. Em contrapartida, um retorno de Donald Trump à presidência pode significar um retrocesso em regulamentações ambientais e uma intensificação do uso de combustíveis fósseis.

"Se Trump retornar, a crise climática enfrentará desafios significativos," alerta Lena Moffitt, diretora executiva da Evergreen Action, evidenciando o impacto potencial de uma liderança que ignora os tempos críticos que vivemos.

Uma semana após as eleições, líderes mundiais se reunirão na COP29 para discutir como reduzir rapidamente as emissões globais e manter as temperaturas abaixo de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Contudo, já enfrentamos um aumento de 1,3°C desde que países ricos começaram a queimar combustíveis fósseis em larga escala. A previsão é alarmante: podemos alcançar um aumento de até 3°C até o final do século, segundo Otto e outros especialistas.

No ano passado, as nações se comprometeram a transitar para fontes de energia mais sustentáveis, mas a efetividade desse pacto é questionável. „É necessário um cronograma mais rígido que possa realmente responsabilizar os países“, sugere Otto.

Embora um fundo para danos climáticos tenha sido criado para auxiliar na adaptação de países mais pobres, atualmente com cerca de US$ 700 milhões disponibilizados, essa quantia é irrisória frente aos danos estimados que podem ultrapassar centenas de bilhões até 2030. "É uma quantia risivelmente baixa, que não é suficiente para ajudar os países vulneráveis a lidarem com as perdas e danos", acrescenta Otto.

O estudo destaca que os países em desenvolvimento são os mais afetados por desastres climáticos. Por exemplo, a seca na Somália em 2011 resultou em 258 mil mortes. A tragédia do ciclone Nargis em Mianmar, em 2008, causou mais de 138 mil mortes, uma evidência clara de que os desastres têm impacto mais severo em regiões menos desenvolvidas.

A Europa também não escapou ilesa. Ondas de calor em anos recentes resultaram em um número alarmante de fatalities, com 2022 sendo um ano marcado pela perda de 68 mil vidas atribuídas diretamente a eventos climáticos extremos. Pesquisas indicam que a maioria dessas mortes está relacionada a causas induzidas por alterações climáticas.

Nos últimos 20 anos, mais de 500 estudos foram feitos sobre a atribuição climática, evidenciando o papel crítico das mudanças que estamos vivenciando. A primeira mea culpa ocorreu em 2004, quando cientistas alertaram que as condições climáticas extremas na Europa naquele ano foram potencializadas pela mudança climática. Eles integraram dados meteorológicos, modelos climáticos e colaboração com especialistas locais, revelando a urgência de ação.

Infelizmente, a luta contra as mudanças climáticas ainda enfrenta barreiras financeiras. "Temos a tecnologia, a metodologia e o conhecimento, mas ainda assim as iniciativas carecem de financiamento adequado", lamenta Michael Wehner, cientista sênior do Lawrence Berkeley National Laboratory.

Com uma mensagem clara, o relatório da World Weather Attribution destaca a importância de proteger populações vulneráveis, aprimorar sistemas de alerta precoce e fortalecer a infraestrutura para prevenção de desastres. No entanto, é evidente que, a cada dia que passa, o planeta se torna mais propenso a eventos extremos, aumentando a pressão sobre a necessidade de ações de mitigação e adaptação imediatas.

"As mudanças climáticas já tornaram a vida extremamente difícil e perigosa, e nem chegamos a 1,3°C de aquecimento", conclui Joyce Kimutai, pesquisadora do Imperial College London. "Estamos vivendo uma escalada de impactos que afetarão desproporcionalmente as pessoas mais vulneráveis de nosso planeta, se não agirmos rapidamente."