Ciência

Mineração Lunar: O Futuro é Brilhante ou Apenas um sonho distante?

2025-01-27

Autor: Ana

A Nasa está rumo a um plano audacioso: escavar em larga escala o solo lunar na próxima década. Enquanto isso, a Agência Espacial Europeia (ESA) se prepara para criar a Vila Lunar, uma base permanente que incluirá, entre suas operações, a mineração.

Novas evidências sugerem que a Lua pode ser rica em minerais valiosos como platina, níquel, ouro e cobalto. No entanto, ainda faltam pesquisas sobre a composição e as variações mineralógicas que podem existir em diferentes regiões do solo lunar.

O especialista Jorge Márcio Carvano, do Observatório Nacional, alerta que, no momento, minerar na Lua para a comercialização é uma ideia distantes. "É muito mais barato minerar na Terra. Já temos a tecnologia para isso. A mineração lunar exigirá um investimento maciço em novas tecnologias", explica.

Histórias de startups que já tentaram a sorte na mineração espacial, como a Planetary Resources, que surgiu em 2009 e faliu em 2018 após ser comprada por uma empresa de blockchain, mostram os desafios desse setor incerto.

Entretanto, a mineração lunar pode se mostrar crucial para as futuras missões espaciais. Com planos de missões que partem da Lua em direção a Marte, a água lunar surge como um dos recursos mais promissores. Extrair água do solo lunar não só reduziria os suprimentos que precisam ser enviados da Terra, mas também possibilitaria a divisão dessa água em oxigênio e hidrogênio, que serviriam como ar respirável e combustível para foguetes, respectivamente.

Outro recurso notável é o hélio-3, um isótopo que pode ser extraído do regolito lunar. Este material é de grande interesse, pois pode ser utilizado em reatores nucleares para geração de energia limpa. No entanto, Carvano se mostra cético, afirmando que ainda não sabemos como extrair hélio-3 de forma economicamente viável ou como desenvolvê-lo em reatores. Além disso, a complexidade de trazer o material de volta para a Terra representa um obstáculo significativo.

As condições no ambiente lunar são extremas, com temperaturas que variam de 121ºC a -133ºC e alta radiação, o que representa um desafio adicional para a exploração.

A pesquisadora Adriana Ibaldo, professora do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), destaca que muitas perguntas ainda precisam ser respondidas. "Apesar das incertezas, há um entusiasmo crescente para explorar esses novos limites", afirma. E, segundo a Nasa, a mineração lunar poderia valer trilhões de dólares.

A startup brasileira Interlune também está de olho na exploração, buscando se tornar pioneira na extração de recursos lunares, especificamente hélio-3, após receber financiamento da Nasa para pesquisa em alterações das propriedades do solo lunar.

Missões ambiciosas pretendem chegar ao polo sul da Lua, onde presença de água congelada foi detectada. Contudo, essa região é cheia de desafios, com terrenos acidentados que dificultam pousos, baixa incidência de luz solar, exigindo uma fonte alternativa de energia para os maquinários, que hoje dependem de células solares. O uso de energia nuclear pode ser uma solução viável, mas a comunicação com a Terra é uma barreira adicional.

As dificuldades são tantas que o primeiro pouso bem-sucedido na região foi realizado apenas em 2023, pela missão indiana Chandrayaan-3.

No campo político, a mineração lunar levanta questões sobre como conciliar interesses diversos. Olavo Bittencourt, professor na Universidade Católica de Santos e membro da diretoria do International Institute of Space Law, ressalta que as normas jurídicas atuais sobre o espaço são insuficientes. O Tratado do Espaço Exterior de 1967 proíbe a apropriação de corpos celestes por países, o que significa que a Lua não pode ser anexada por nenhuma nação.

"O cenário legal é como um quebra-cabeça com peças faltando", diz Bittencourt. O Tratado deixa lacunas, como a questão de se os recursos dos corpos celestes podem ser explorados sem anexação de território.

Por sua vez, o Acordo da Lua, de 1979, buscou expandir as instruções do tratado, mas não teve participação significativa. Semi-clarezas nas regras atuais podem favorecer interpretações que priorizem os pioneiros na exploração.

Sem uma estrutura legal clara, o caminho para a mineração lunar pode se desenvolver, mas também pode intensificar conflitos de interesses no futuro.