O Brasil foi palco de casos incríveis de superação diante da raiva humana, uma doença quase sempre fatal. O primeiro relato é de Marciano Menezes da Silva, um jovem que, em 2008, foi mordido por um morcego enquanto dormia em Floresta, Pernambuco. Após a mordida, a família o levou a uma unidade de saúde no dia seguinte, mas, surpreendentemente, o médico optou por não aplicar a vacina antirrábica, alegando que ele "não apresentava sintomas".

Um mês depois, Marciano começou a sentir dormência nos braços e febre alta, o que levou sua família a buscá-lo em Recife. Os médicos da capital informaram que ele teria no máximo 10 dias de vida. A situação era desesperadora, mas uma equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz decidiu tentar o impensável: iniciar o protocolo de Milwaukee, utilizado no passado para curar a primeira pessoa do mundo da raiva.

Esse tratamento revolucionário consiste em induzir um coma profundo e administrar antivirais potentes. Após um ano de internação, a notícia da cura de Marciano chegou: ele estava livre da doença, mas suas sequelas eram permanentes. Ele hoje utiliza cadeira de rodas e enfrenta dificuldades na fala e na mobilidade das mãos. Em entrevista ao UOL em 2023, com apenas 32 anos, ele expressou sua gratidão pela vida: "Nasci de novo", disse ele, embora conviva diariamente com a limitação que a doença impôs em sua rotina.

Outro caso emblemático de sobrevivência à raiva no Brasil ocorreu em 2018, com Mateus Castro, um adolescente amazonense de 14 anos. Mateus foi mordido por um morcego na zona rural de Barcelos, a mais de 400 km de Manaus. Infelizmente, ele perdeu dois irmãos para a mesma doença, mas sua história foi diferente. Com o mesmo tratamento que salvou Marciano, ele conseguiu vencer a raiva, embora ainda enfrentasse desafios motoras e de fala. Em 2021, Mateus ainda estava internado em uma UTI em Manaus, lutando por sua recuperação.

A raiva continua a ser uma doença recorrente no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2015 e 2018, diversos casos foram reportados, principalmente associados a mordidas de morcegos, felinos e cães. Cada novo caso é um lembrete da importância da vacinação, do rápido atendimento médico e da conscientização sobre a doença. Apesar das adversidades, as histórias de Marciano e Mateus servem como um inspetor farol de esperança e resiliência. Afinal, eles não são apenas sobreviventes; são verdadeiros guerreiros que desafiaram o destino.