Saúde

Maraísa e a Obsessão pela Magreza: O Impacto do Ozempic e da Comunidade EDTWT

2024-11-01

Autor: Julia

A epidemia do "culto à magreza" no Brasil está se intensificando, com o aumento de 300% na busca pelo medicamento Ozempic, um remédio inicialmente destinado ao tratamento de diabetes tipo 2, mas que tem sido amplamente utilizado para emagrecimento. A declaração da cantora sertaneja Maraísa, que afirmou estar feliz e saudável pesando apenas 45 quilos, reflete a pressão estética que muitas enfrentam atualmente.

Esse fenômeno não se limita a uma questão estética; ele se transforma em um problema de saúde pública. Comunidades online, como o "edtwt" (Eating Disorder Twitter), se proliferam nas redes sociais, onde jovens compartilham experiências sobre transtornos alimentares, muitas vezes glorificando condições como anorexia e bulimia.

A nutricionista Manoela Figueiredo, especialista em transtornos alimentares, alerta que a busca por um corpo magro pode rapidamente se tornar uma obsessão prejudicial, impactando o bem-estar físico, emocional e social. Sintomas como contagem obsessiva de calorias, cortes drásticos na alimentação e exercícios físicos compulsivos são alguns dos sinais de alerta.

Além disso, o isolamento social e a distorção de imagem corporal também são alarmantes. Pessoas podem se considerar acima do peso mesmo quando estão magras, e isso pode levar a problemas como depressão, ansiedade e desnutrição. Os riscos físicos são igualmente graves, podendo incluir amenorreia (ausência de menstruação), distúrbios gastrointestinais e perda de massa muscular.

Com a indústria do emagrecimento prosperando, produtos que prometem resultados rápidos espalham-se pelo mercado, mas frequentemente causam danos à saúde, como problemas hepáticos e cardíacos. A reação em cadeia de dietas extremas pode resultar no indesejado "efeito sanfona", onde o peso perdido é rapidamente recuperado.

Fernanda Timerman, do Instituto Nutrição Comportamental, destaca que a indústria explora a insatisfação da população com a imagem corporal, intensificando o culto à magreza e gerando um ciclo destrutivo: oferta de soluções para um problema criado por eles mesmos.

Estudos apontam que 20% das mulheres brasileiras enfrentam baixa autoestima, uma questão que se agrava com a influência de redes sociais que promovem padrões de beleza inatingíveis. A nutricionista Sabrina Franco alerta que o emagrecimento deve ser um processo gradual e saudável, e não uma corrida desesperada por soluções rápidas e fatais.

A situação é alarmante: cerca de 5% da população brasileira sofre de algum tipo de transtorno alimentar, e a comparação constante nas redes sociais só tende a exacerbar esse problema. O tema, que ganha cada vez mais repercussão, foi recentemente discutido na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, evidenciando a urgência de uma abordagem mais consciente sobre saúde mental e corporal.

Em meio a este cenário, é imperativo que haja uma valorização da saúde verdadeira e uma reeducação alimentar que priorize o bem-estar em vez de seguir padrões estéticos prejudiciais. Afinal, a verdadeira felicidade não se mede em quilos.