Má Ciência em Tempos de Pandemia: Como Análises Irregulares Estão Aumentando o Medo das Vacinas
2025-01-25
Autor: Mariana
Recentemente, a integridade da pesquisa científica tem sido posta em cheque devido a uma série de publicações questionáveis que ampliam o medo da vacinação. Mudanças nos modelos de negócios das editoras estão enfraquecendo o sistema de revisão por pares. Muitas revistas científicas estão priorizando o lucro e publicando artigos com revisões superficiais, aceitando um número crescente de trabalhos, mesmo que estes contenham falhas graves.
Um exemplo alarmante é a pesquisa intitulada "Avaliação do risco de mortalidade pós-covid em casos classificados como síndrome respiratória aguda grave no Brasil: um estudo longitudinal de médio e longo prazo", publicada na Frontiers in Medicine em dezembro de 2024. Os revisores desse artigo não eram especialistas na área de epidemiologia da covid-19, resultando na disseminação de informações potencialmente enganosas.
O estudo em questão alega que as vacinas contra a covid-19 aumentam o risco de morte não relacionada ao vírus um ano após a infecção. A metodologia utilizada para determinar mortes "não relacionadas" era duvidosa, já que considerava somente aquelas ocorridas mais de três meses após o início dos sintomas, sem qualquer base científica sólida.
Dados Públicas e Seus Limites
Os autores utilizaram dados de um sistema criado para monitorar casos de SRAG entre 2020 e 2023, mas este sistema não é adequado para este tipo de análise. As informações sobre hospitalizações e óbitos são inseridas manualmente, o que amplia as possibilidades de erros. Além disso, o foco do sistema em mortes relacionadas à SRAG distorce a interpretação dos resultados.
É crucial observar que, ao analisar esses dados, muitos resultados falhos podem se originar de registros imprecisos. A maioria das mortes relatadas no database estavam concentradas em um intervalo de tempo curto entre o início dos sintomas e a alta hospitalar, e casos com intervalos mais longos provavelmente refletem erros de digitação.
Análise Deficiente e Resultados Prejudiciais
Uma das principais falhas da pesquisa está no fato de que a vacinação no Brasil começou em 2021. Assim, é impossível comparar casos de 2020 com a vacinação, já que não havia vacinados naquela época. Essa falha de design experimental compromete a validade dos resultados. A comparação deveria ter sido feita entre pessoas que apresentaram sintomas no mesmo período, respeitando as condições de saúde pública em diferentes anos.
Outro ponto crucial é que as vacinas poderiam ter sido administradas após o início dos sintomas, o que também influência negativamente a interpretação dos dados. Registros adequados devem considerar a vacinação apenas antes do início dos sintomas.
Por fim, o artigo se tornou uma arma para grupos anti-vacina nas redes sociais. Isso ilustra a responsabilidade dos autores e editores ao não manter a rigorosidade científica, contribuindo para a proliferação de desinformação. Os erros cometidos minam a confiança nas vacinas, sendo uma ameaça à saúde pública.
Concluímos que a má ciência, ao ser disseminada, propaga a pseudociência e a desinformação, criando um perigoso efeito cascata que pode impactar a saúde coletiva de maneira devastadora. A sociedade não pode permitir que análises como essas sejam usadas para semear medo e insegurança, principalmente em tempos que exigem união em torno da ciência e da saúde pública.