Kamala x Trump: O Que as Eleições Americanas Significam para as Relações Brasil-Estados Unidos?
2024-11-03
Autor: Lucas
Trump e Kamala se cumprimentam durante debate em 10 de setembro — Foto: Reuters/Brian Snyder
No próximo dia 5 de novembro, os eleitores americanos decidirão entre o ex-presidente Donald Trump, um dos principais ícones da extrema direita, e a vice-presidente Kamala Harris, uma democrata progressista que pode se tornar a primeira mulher de origem negra e asiática a liderar os EUA.
Para analisar o que está em jogo nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, que celebraram 200 anos de amizade diplomática neste ano, o g1 entrevistou Tanguy Baghdadi, professor de relações internacionais e fundador do podcast Petit Journal, e Hussein Kalout, cientista político e ex-secretário de Ações Estratégicas durante o governo de Michel Temer.
Cenário de Vitória para Donald Trump
Trump, em evento na Califórnia em 12 de outubro — Foto: AP Foto/Alex Gallardo
De acordo com Tanguy Baghdadi, o estilo de política externa de Trump é caracterizado pela aproximação com líderes que aceitam sua liderança, independentemente das diferençasideológicas. Ele aponta que, assim como Lula buscou dialogar com líderes de diferentes espectros políticos, a relação entre Trump e Lula poderia ser menos contenciosa do que muitos imaginam.
Baghdadi acredita que se Trump vencer, a comunicação entre ele e o presidente Lula tendia a ser protocolar, mantendo acordos já estabelecidos. No entanto, ele prevê uma inicial "desconfiança" e "frieza" nessa interação.
Apoio Político entre Direitas
Tanto Baghdadi quanto Kalout observam que a próxima eleição presidencial no Brasil pode ser desafiadora para o partido dos Trabalhadores, visto que Trump apoiou Bolsonaro nas eleições de 2022, ambos se dirigindo ao mesmo eleitorado conservador. Kalout comenta que, se o Brasil enfrentar questões democráticas semelhantes às vividas nos EUA, a postura de Trump será mais incisiva, alinhando-se rapidamente à direita brasileira.
Um fator que une Trump e Bolsonaro é que ambos foram investigados por tentativas de golpe em seus países. Em 6 de janeiro de 2021, apoiadores de Trump invadiram o Capitólio, um evento que teve repercussões internacionais.
Visões Distintas: Meio Ambiente e Relações Internacionais
Um retorno de Trump à presidência pode levar a mudanças significativas em questões ambientais, segundo Kalout. Ele acredita que o Brasil poderia ser pressionado a se alinhar com a China, uma alteração inédita na política externa brasileira.
Kalout também destaca que a postura americana em relação à Venezuela mudaria, já que Trump adota um tom muito mais crítico do governo Maduro em comparação com Biden e Kamala Harris.
Cenário de Vitória para Kamala Harris
Kamala Harris em evento em uma igreja batista na Geórgia, 20 de outubro — Foto: Reuters/Elijah Nouvelage
Caso Kamala Harris vença, é esperado que eixos de política externa, como a defesa do multilateralismo e a proteção dos direitos humanos continuem a ser prioridades. Tanguy Baghdadi argumenta que as agendas de Lula e Kamala são muito semelhantes na luta contra a direita.
Durante um encontro em fevereiro de 2023, Lula e Biden reafirmaram suas relações baseadas em apoio à democracia e preservação ambiental, mas Baghdadi ressalta que não há grandes expectativas de uma proximidade substancial entre os dois países, prevendo uma relação cordial, mas distante.
Parceria ou Aliança?
Kalout destaca que, enquanto Brasil e Estados Unidos são parceiros comerciais importantes, a falta de um alinhamento militar faz com que não sejam considerados aliados. A diversidade entre as políticas externas dos dois países pode levar a divergências significativas sobre temas como a guerra na Ucrânia e tensões no Oriente Médio.
Baghdadi conclui que, independentemente do resultado das eleições americanas, o Brasil não será uma prioridade nas agendas dos novos presidentes, reafirmando a manutenção de uma relação de distância entre as nações.